Pense nos códigos de barras hoje usados nos produtos da maioria das lojas. O scanner lê somente o código de barras. Pouco importa o que há na garrafa ou na embalagem, ou se o adesivo está no item "certo" ou não. A máquina da caixa lê com o seu olho eletrônico somente o código de barras e desconsidera completamente o resto. Se o código de barras do sorvete está na ração do cachorro, a ração do cachorro é sorvete, pelo menos para o scanner.
Num recente programa de rádio, um eminente ministro passou quinze minutos reforçando a idéia de que a "justificação", o perdão dos pecados, não opera nenhuma mudança no coração ou na personalidade da pessoa perdoada. É, insistia ele, algo totalmente exterior a você, localizado totalmente no próprio Deus. A sua intenção era enfatizar o conhecido argumento protestante de que a salvação vem somente da graça de Deus e é absolutamente independente daquilo que possamos fazer. Mas o que ele disse na verdade foi que ser cristão nada tem a ver com o tipo de pessoa que você é. As implicações dessa doutrina são colossais.
A teologia das quinquilharias cristãs diz que há algo no cristão que funciona como o código de barras. Um ritual, uma crença ou a associação a um grupo impressiona a Deus da mesma forma como o código de barras impressiona o scanner. Quem sabe um momento de concordância mental com um credo, quem sabe a decisão de entrar para uma igreja. Deus "escaneia" o fato e logo jorra o perdão. Uma certa medida de justiça passa da conta de Cristo para a nossa no banco do céu, e todas as nossas dívidas são pagas. Somos, assim, "salvos". A nossa culpa é apagada. Como não seríamos cristãos?
Para alguns grupos cristãos a "conta" tem de receber constante manutenção para manter pagas as dívidas, pois realmente não somos perfeitos. Para outros - alguns grupos fortemente calvinistas - toda a dívida do passado, do presente e do futuro já está paga na leitura do scanner. Mas a coisa essencial em qualquer dos dois casos é o perdão dos pecados. E a compensação pela fé e por a pessoa ter sido "escaneada" vem na morte e no além. A vida que se vive agora não tem uma relação necessária com o fato de ser cristão, desde que o "código de barras" faça o seu papel.
Vemos por aí muita discussão a respeito do que fazem e não fazem os bons cristãos. Mas logicamente não é necessário ser um bom cristão para ser perdoado. Esse é o ponto principal do código de barras, e está correto.
Dallas Willard em "A Conspiração Divina" (Editora Mundo Cristão)
Dallas Willard em "A Conspiração Divina" (Editora Mundo Cristão)
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