Comentários sobre o calvinismo

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Calvino admite a existência de dois sacramentos de instituição divina: o Batismo e a Eucaristia ou Ceia do Senhor.


A Eucaristia, para ele, "significa", porém não é o Corpo e o Sangue do Senhor. Rejeita, por isso, tanto a transubstanciação dos católicos como a consubstanciação de Lutero. Para Calvino: a presença de Cristo na Eucaristia é real e espiritual e não física, ou seja, aceita uma presença dinâmica apenas.

Segundo Calvino, Deus, desde toda a eternidade, predestinou - com vontade antecedente e absoluta - uma parte da humanidade à condenação eterna. Num primeiro momento, afirmava que tal predestinação era independente do fato do pe-cado de nossos progenitores; mais tarde, fê-Ia depender dele.

REPAROS

1°) A Igreja Calvinista, já o nome o diz, é uma invenção do Sr. João Calvino em pleno século XVI. Não é fundação de Cristo. mas obra humana, fruto de sua interpretação pessoal da Bíblia.

Na realidade, a Igreja dos Símbolos da fé da antigüidade cristã, aquela que Cristo fundou em pessoa sobre São Pedro e os Apóstolos e que tem dois mil anos de existência, é a Igreja Católica.

Apenas um testemunho insuspeito do 2° século de nossa era, de São Clemente de Alexandria:
Só há uma Igreja antiga, e é a Igreja Católica. Das heresias: umas se chamam pelo nome dos homens que as fundaram: Valentino, Marcião, Basílides etc. Atualizando, podemos incluir hoje Calvino; outras pelo lugar donde vieram, como os peráticos; outras do povo, como a heresia dos frigios; outras dalguma operação: encratistas; outras dos seus próprios ensinamentos: docetas, hematistas (cf. Stromata, L. 7, capo 15).


2°) A falta do Sacramento da Ordem, de instituição divina, entre os calvinistas traz consequências graves para eles, ou seja: - Só podem validamente administrar dois sacramentos: o Batismo e o Matrimônio (que aliás não aceitam como sacramento).

- A Eucaristia que celebram não realiza a presença verdadeira, real e substancial do Corpo e Sangue de Jesus sob as espécies ou aparências do pão e do vinho, pois falta o poder consagrante a seus ministros. Quando muito, seu rito eucarístico se reduz a um ato piedoso e a uma comunhão espiritual.

- Segundo a fé católica: a Ordem é um verdadeiro e próprio Sacramento de instituição divina (cf. Trid. Dz 963; At 6,6; 13,3; 14,23; 2Tm 1,6; 1 Tm 4,14; 5,22 e Lc 22,19-20).

Diga-se ainda que existe na Igreja um poder de governo estabelecido por Cristo, isto é, uma hierarquia (d. Trid. Dz 960).

Não resta dúvida que pelo Batismo todo cristão participa do sacerdócio de Cristo (geral, comum) (cf. lPd 2,5-9), mas, para validade da ordenação, da Eucaristia, da Confissão, da Crisma e da Unção dos Enfermos, requer-se um sacerdócio especial ou propriamente dito, o qual vem comunicado pelo sacramento da Ordem.

Eis o que nos diz o Concílio Vaticano II, na Lumen Gentium, n. 10:
O sacerdócio comum dos fiéis e o sacerdócio ministerial ou hierárquico ordenam-se um ao outro. Embora se diferenciem na essência e não apenas em grau. Pois ambos participam, cada qual a seu modo, do único sacerdócio de Cristo. O sacerdote ministerial, pelo poder sagrado de que goza, forma e rege o povo sacerdotal, realiza o sacrifício eucarístico na pessoa de Cristo e o oferece a Deus em nome de todo o povo. Os fiéis, no entanto, em virtude de seu sacerdócio régio, concorrem na oblação da Eucaristia e o exercem na recepção dos Sacramentos, na oração e ação de graças, pelo testemunho de uma vida santa, pela abnegação e pela caridade ativa.


3°) A afirmação de uma presença puramente "espiritual" ou dinâmica de Cristo na Eucaristia é uma heresia condenada vigorosamente pela Igreja Católica no Concílio de Trento:
Se alguém negar que no Santíssimo Sacramento da Eucaristia estão real, verdadeira e substancialmente o Corpo e o Sangue juntamente com a alma e divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo e, por isso, Jesus Cristo inteiro, mas disser que neste Sacramento ele está somente em sinal e em figura ou em potência, seja excomungado (Dz 883).

"Na Eucaristia - ao serem proferidas as palavras da consagração - a realidade profunda (não fenomenal) do pão e do vinho se converte no Corpo e no Sangue de Cristo. Esta maravilhosa transformação recebeu na Igreja o nome de "transubstanciação" .

Portanto, sob as aparências (ou realidade fenomenal) do pão e do vinho, de maneira totalmente misteriosa, está presente a própria humanidade de Cristo, não apenas através de seu poder, mas por si mesma (isto é, substancialmente) unida à sua pessoa divina" (cf. Diretório Catequético Geral, n. 58).

4°) A redução dos sacramentos de instituição divina a dois apenas (Batismo e Eucaristia) não tem apoio bíblico nem da tradição antiga. Tal redução constitui uma heresia condenada pelo Concílio de Trento que nos afirma, como dogma de fé, que são sete os sacramentos da Nova Lei, a saber:

O Batismo (Mt 28,19)

A Crisma (At 19,5-6; 8,14-17)

A Eucaristia (Lc 22,19-20; lCor 11,23-29)

A Confissão (10 20,22-23; Mt 16,18-19; 18,18) A Unção dos Enfermos (Tg 5,14-15)

A Ordem (Lc 22,19-20; At 6,5-6; 1 Tm 4,14; 5,22; 2Tm 1,6) O Matrimônio (Ef 5,31-32) (cf. Trid. Denz. 844).

Os Sete Sacramentos são admitidos também pela Igreja ortodoxa e por seitas orientais (Coptas, Jacobitas e Armênios).

5°) O predestinacionismo de Calvino de que Deus, desde toda a eternidade, com vontade antecedente e absoluta, tenha destinado à condenação eterna uma parte da humanidade antes da previsão dos deméritos é inaceitável, fere a justiça de Deus, e tal doutrina é condenada pela Igreja Católica.


"Deus todo-poderoso, sem exceção, quer que todos os homens se salvem, embora nem todos se salvem. Que alguns se salvem é dom de Deus; que alguns se percam é por próprio demérito" (Dz 318).

"Se os maus se perdem, não é porque não puderam ser bons, mas porque não o quiseram" (Dz 321).

"Fielmente professamos a predestinação dos eleitos para a vida e a predestinação dos ímpios para a morte. Na eleição, todavia, dos que serão salvos, a misericórdia de Deus precede o mérito bom; na condenação, porém, dos que vão perecer, o demérito precede o justo juízo de Deus" (Dz 322).

"Se alguém disser que a graça da justificação só é dada aos predestinados para a vida e que todos os outros que são chamados são-no, sim, mas não recebem a graça, visto estarem pelo poder divino predestinados para o mal- seja excomungado" (Trid. Dz 827).
Resumo e textos literais dos livros: As religiões no mundo, Irineu Wilges, Ed. Vozes, pp. 85-86; Crenças, seitas e símbolos religiosos, Ed. Paulinas, pp. 85-86; Teologia Dogmática, Bernardo Bartmann, Ed. Paulinas, pp. 301-302, 2° vol. e pp. 59-62, 3° vol. Crítica própria.

Condensado do livro "Religião & Religiões", de Fernando dos Reis de Melo (Editora Santuário).

1 comentários:

Éverton Shy disse...

O calvinismo é muito interessante, quando me converti ao cristianismo foi depois que estudei muito sobre o calvinismo....
Hoje sou Cristão Ortodoxo, mas tenho uma grande admiração pelo calvinismo...

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