Por que os bons também sofrem?

sexta-feira, 25 de março de 2011


Era o ano de 1914, e o mundo mergulhara na guerra. De repente, um surto de tifo irrompeu num campo de prisioneiros de guerra na Sérvia. Mas isso foi apenas o começo. A temível doença alastrou-se entre a população civil e causou a morte de 150.000 pessoas em apenas seis meses. Em meio às condições de guerra e da revolução que se seguiu na Rússia, três milhões de pessoas morreram de tifo. Pode-se corretamente concluir que entre os que morreram e seus respectivos membros da família havia muitas pessoas boas.
Este é apenas um exemplo de tragédia humana. Talvez já tenha sentido pessoalmente o sofrimento que resulta de um ente querido tornar-se vítima de doença, de acidente, ou de outro tipo de calamidade. Sem dúvida se sente angustiado quando uma pessoa honrada sofre as dores de uma doença incurável. Com certeza fica muito triste quando uma pessoa boa — talvez um chefe de família trabalhador — morre num acidente. O pesar dos enlutados talvez o faça condoer-se deles de coração.
Muitos acham que quem faz o bem devia receber a recompensa de ficar livre do sofrimento. Alguns chegam a encarar o sofrimento como prova de que a vítima é transgressora. Este foi o argumento de três homens que viveram uns 3.600 anos atrás. Eram contemporâneos de um homem bom, chamado Jó. Voltemos aos seus dias, ao passarmos a buscar uma resposta à pergunta: por que os bons também sofrem?

Os Sofrimentos de Jó
Quando três supostos amigos de Jó o visitaram, este sofria indescritivelmente de dores e doença. Havia perdido seus dez filhos e todos os seus bens materiais. Os que haviam tido Jó em alta estima agora o detestavam. Até mesmo sua esposa retirou o seu apoio, instando com ele para que amaldiçoasse a Deus e morresse. — Jó 1,1-2,13; 19,13-19.
Por sete dias e sete noites, esses visitantes observaram calados os sofrimentos de Jó. Daí, um deles acusou-o de conduta injusta, pela qual supostamente estava sendo punido. “Lembra-te, por favor”, disse Elifaz: “Que inocente jamais pereceu? E onde é que os retos foram eliminados? Segundo o que vi, os que projetam o que é prejudicial e os que semeiam desgraça são os que a ceifarão. Perecem pelo sopro de Deus e têm seu fim pelo espírito da Sua ira.” — Jó 4,7-9.
Portanto, Elifaz argumentou que Deus punia a Jó pelos pecados que este havia cometido. Também hoje, alguns argumentam que as calamidades são causadas por Deus para punir os malfeitores. Mas o Senhor não estava punindo Jó por ter cometido atos injustos. Sabemos isso porque Ele disse mais tarde a Elifaz: “Minha ira se acendeu contra ti e contra os teus dois companheiros, pois não falastes a verdade a meu respeito assim como fez meu servo Jó.” — Jó 42,7.

A Culpa não É de Deus
Atualmente, milhões de pessoas — certamente incluindo muitas pessoas boas — sofrem pobreza e estão à beira da inanição. Algumas ficam amarguradas e culpam a Deus pelo seu sofrimento. Mas Deus não tem culpa da fome. Na realidade, é ele quem supre os alimentos para a humanidade. — Salmo 65,9.
O egoísmo, a ganância e outros fatores humanos talvez impeçam que os alimentos cheguem aos famintos. Uma das causas da fome é a guerra. Por exemplo, a Enciclopédia Delta Universal diz:
“A guerra pode ocasionar a fome, se a maioria dos fazendeiros e plantadores abandonarem seus campos e tiverem de se alistar nas forças armadas. Em alguns casos, um exército cria condições que desencadeiam uma crise de fome a fim de obrigar o inimigo a render-se. O exército destrói os alimentos armazenados e as plantações em via de crescimento e maturação e instaura um bloqueio a fim de cortar os suprimentos de alimentos. Os bloqueios não permitiram o embarque de alimentos para a região de Biafra durante a guerra civil da Nigéria (1967-70). Resultou daí uma crise de fome e provavelmente mais de um milhão de biafrenses terão morrido [de fome].”
Alguns culparam injustamente a Deus em especial durante a Segunda Guerra Mundial, quando muitas pessoas boas sofreram e morreram. No entanto, os humanos violam as leis de Deus por se odiarem e guerrearem entre si. Quando se perguntou a Jesus Cristo que mandamento era “o primeiro de todos”, ele respondeu: “O primeiro é: ‘Ouve, ó Israel: o Senhor nosso Deus, é um só e tens de amar a o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de toda a tua mente, e de toda a tua força.’ O segundo é este: ‘Tens de amar o teu próximo como a ti mesmo.’ Não há outro mandamento maior do que estes.” — Marcos 12,28-31.
Quando os humanos violam as leis de Deus promovendo grandes matanças, pode alguém com razão culpar a Deus pelo sofrimento resultante? Se um pai diz aos filhos que não briguem entre si, mas eles desconsideram o seu bom conselho, caberia ao pai a culpa pelos ferimentos que viessem a sofrer? Como esse pai, tampouco Deus é o responsável pelos sofrimentos humanos quando as pessoas desconsideram as leis divinas.
Embora possam resultar sofrimentos quando não se faz caso das leis de Deus, a Bíblia não indica que tragédias em geral sejam provocadas por Deus para punir os maus. O primeiro casal humano, quando pecou, perdeu a bênção e a proteção especiais de Deus. Excetuando-se os casos de intervenção divina para cumprir os propósitos do Senhor, o que tem acontecido à humanidade de dia a dia tem sido regido pelo seguinte princípio bíblico: “A corrida não é dos ligeiros, nem a batalha dos poderosos, nem tampouco são os sábios os que têm alimento, nem tampouco são os entendidos os que têm riquezas, nem mesmo os que têm conhecimento têm o favor; porque o tempo e o imprevisto sobrevêm a todos eles.” — Eclesiastes 9,11.

Tanto os Bons Como os Maus Sofrem
Na realidade, tanto os humanos bons como os maus sofrem por causa do pecado e da imperfeição que herdaram. (Romanos 5,12) Por exemplo, tanto os justos como os iníquos sofrem doenças dolorosas. O fiel cristão Timóteo padecia de “frequentes casos de doença”. (1 Timóteo 5,23) Quando o apóstolo Paulo mencionou seu próprio “espinho na carne”, ele talvez se referisse a algum padecimento físico. (2 Coríntios 12,7-9) Por ora, nem mesmo para seus servos leais Deus remove as fraquezas herdadas ou as predisposições para a doença.
Às vezes, é possível também que pessoas piedosas sofram por não usarem de bom senso ou por não aplicarem os conselhos bíblicos. Para ilustrar: quem desobedece a Deus e se casa com um descrente talvez sofra dificuldades maritais que poderia ter evitado. (Deuteronômio 7,3,4; 1 Coríntios 7,39) Quando um cristão não se alimenta bem e não descansa o suficiente, talvez sofra por ter estragado a saúde.
Podemos ter sofrimentos emocionais por sucumbirmos a fraquezas e por nos envolver em conduta errada. O adultério do Rei Davi com Bate-Seba causou-lhe grande sofrimento. (Salmo 51) Quando tentou ocultar a transgressão, sofreu intensa aflição. “Quando fiquei calado”, disse ele, “meus ossos se gastaram por eu gemer o dia inteiro . . . A seiva da minha vida se transformou como no calor seco do verão”. (Salmo 32,3-4) A angústia causada pela sua culpa diminuiu o vigor de Davi assim como uma árvore pode perder a umidade vitalizadora durante a estiagem ou no calor seco do verão. Ele parece ter sofrido tanto mental como fisicamente. Mas o Salmo 32 mostra que esse sofrimento pode ser aliviado se a pessoa confessar o pecado de forma arrependida e receber o perdão de Deus. — Provérbios 28,13.
Os maus muitas vezes sofrem por adotarem um proceder licencioso, não por punição divina. Herodes, o Grande, foi afligido por muitas doenças por causa de seus maus hábitos. Nos seus últimos dias, ele “sofria horríveis tormentos”, disse o historiador judeu Josefo. “Ele tinha uma terrível ânsia de se coçar, seus intestinos estavam ulcerados, e suas partes pudendas estavam gangrenosas e verminadas. Ele tentava em vão aliviar seus ofegos e suas convulsões nas termas de Calírroe. . . . Herodes padecia duma agonia tão terrível que tentou apunhalar-se, mas foi impedido pelo seu primo.” — Josephus: The Essential Writings (Josefo: Os Escritos Essenciais), traduzido para o inglês e editado por Paul L. Maier.
Aderir à lei de Deus dá certa proteção contra coisas tais como doenças sexualmente transmissíveis. Mas, por que é que pessoas boas, que buscam o favor de Deus, parecem ter um quinhão maior de sofrimento?

Por Que Sofrem os Piedosos
Um dos motivos primários de os piedosos sofrerem é que são justos. Isto é ilustrado pelo caso de José, filho do patriarca Jacó. Embora a esposa de Potifar continuamente instasse com José a ter relações sexuais com ela, ele perguntou: “Como poderia eu cometer esta grande maldade e realmente pecar contra Deus?” (Gênesis 39,9) Isto resultou na sua prisão injusta, de modo que José sofreu por ser uma pessoa correta.
Mas, por que permite Deus que seus servos fiéis sofram? A resposta está numa questão suscitada pelo anjo rebelde, Satanás, o Diabo. A questão envolve a integridade a Deus. Como sabemos disso? Porque foi demonstrado no caso do justo Jó, já mencionado.
Numa reunião de filhos angélicos de Deus no céu, Deus perguntou a Satanás: “Fixaste teu coração no meu servo Jó, que não há ninguém igual a ele na terra, homem inculpe e reto, temendo a Deus e desviando-se do mal?” A resposta do Diabo prova que havia uma contenda quanto a se os humanos manteriam ou não a integridade a Deus se fossem submetidos a uma prova. Satanás afirmou que Jó servia a Deus por causa das bênçãos materiais que recebia, não por amor. Daí, Satanás disse: “Ao invés disso, estende tua mão, por favor, e toca em tudo o que [Jó] tem, e vê se não te amaldiçoará na tua própria face.” Deus respondeu: “Eis que tudo o que ele tem está na tua mão. Somente contra ele próprio não estendas a tua mão!” — Jó 1,6-12.
Apesar de tudo o que Satanás pôde fazer, Jó manteve um proceder justo e provou que servia a Deus por amor. Deveras, Jó disse aos seus acusadores: “É inconcebível da minha parte declarar-vos justos! Até eu expirar não removerei de mim a minha integridade!” (Jó 27,5) Sim, os que mantêm a integridade sempre estiveram dispostos a sofrer pela causa da justiça. (1 Pedro 4,14-16) A Bíblia fala de muitos que mostraram amor inabalável a Deus e levaram uma vida justa para honrá-lo e provar ser falsa a afirmação de Satanás, de que podia fazer com que todos os humanos se desviassem de Deus. Todo aquele que sofre por manter a integridade a Deus pode sentir-se feliz, porque prova que o Diabo é mentiroso e porque alegra o coração de Deus. — Provérbios 27,11.
Deus não é indiferente aos sofrimentos de seus servos fiéis. O salmista Davi disse: “O Senhor sustenta a todos os que estão caindo e ergue a todos os encurvados.” (Salmo 145,14) Os dedicados a Deus talvez não tenham suficiente força pessoal para suportar os sofrimentos da vida e as perseguições a que estão expostos como Seu povo. Mas Deus os fortalece e sustenta, e concede-lhes a sabedoria necessária para perseverar em todas as provações que sofrem. (Salmo 121,1-3; Tiago 1,5-6) Caso perseguidores venham a realmente matar alguns dos servos leais de Deus, estes têm a esperança divina da ressurreição. (João 5,28-29; Atos 24,15) Mesmo a tal ponto, Deus pode inverter os efeitos de qualquer sofrimento que aqueles que o amam venham a passar. Ele acabou com o sofrimento de Jó e abençoou grandemente este homem reto. E podemos confiar em que Deus não abandonará seu povo nos nossos dias. — Jó 42,12-16; Salmo 94,14.

Extraído de revistas cristãs

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