Idola tribus, Idola specus, Idola fori, Idola theatri... oi?

segunda-feira, 16 de maio de 2011

por Zé Luís

Uma coisa leva a outra; lendo “História do Cerco de Lisboa” de José Saramago, acabei encontrando uma citação contida da obra de Francis Bacon, sujeito que viveu lá pelos idos de 1500. Embora seja considerado pai da metodologia científica, conta a lenda que ele foi a pessoa a alcançar o nível mais alto dentro da AMORC (Rosa Cruz, uma ordem secreta e mística que até hoje mantém suas “lojas”). Um místico cientista, controverso para os dias atuais.

Saramago citou dentro de seu livro um trecho da obra “Novum Organum” que falava sobre quatro tipos de erros comuns(o personagem do texto de Saramago é um revisor de textos):

Idola tribus, Idola specus, Idola fori, Idola theatri.

A grosso modo:

Idola = erro.
(antes que alguém tente achar alguma teologia com a palavra em latim, associando a “idolatria”, abominada no judaico cristianismo, vale a pena ressaltar que esta herda dos radicais gregos eidolon + latreia, onde eidolon seria melhor traduzido por "corpo", e latréia significando "adoração". Neste sentido representaria mais uma adoração às aparências corporais do que de imagens simplesmente, tornando muitos evangélicos grandes idolatras, triste descoberta).

Idola tribus são os erros da natureza humana, o que os cristãos chamam de natureza caída, nosso exagero em julgar, segundo padrões adquiridos, permitindo que nossos pré-conceitos e paixões – muitas vezes – insanas nos guiem em nosso objetivo (e que muitas vezes, fruto de uma bobagem que começamos a perseguir em um tempo onde não sabíamos nem amarrar os sapatos).

Idola Specus tem relação ao entendimento pessoal, a forma que cada pequeno item desse mundo cai na consciência -e inconsciente – do indivíduo. Em um culto, por exemplo, veremos numa pequena sala com cinquenta pessoas, a mesma informação ser recebida das formas mais diversas e com as reações mais inusitadas.

Idola fori: erros que dizem respeito a linguagem. Mesmo dentro do mesmo idioma, existe uma clara distinção de compreensão dependendo da região onde está. Não falo apenas de, por exemplo, Portugal e Brasil, ou mesmo nas regiões sul, sudeste ou nordeste, mas na forma que a palavra é trazida. Um palavrão pode causar riso ou repúdio, de acordo com a formação lingüística do meio em que o indivíduo formou-se. A coisa se estende até dentro de uma pequena relação, onde um fala "A"  o outro, que entendeu "B", responde "C". Uma babel...

Idola theatri tem relação aos erros de sistema, onde regras são estabelecidas sem percebermos a real conseqüência da mesma, pena de morte, presídios abarrotados de gente que sai muitas vezes pior do que entrou, a necessidade do prazer humano movimentando industrias como a pornográfica (aqueles jovens são nossos filhos ou poderiam ser), o tráfico, que arma os morros, e que produz mais indivíduos aptos a lotarem os presídios, que os tornarão piores pelo ambiente em que serão inseridos. O mundo jaz no maligno e, verificar o sistema implantado neste só reforça que ele fez bem seu trabalho maldito.

Diante desta realidade constatada, não sobra pergunta que não seja: como chegamos até aqui? Como sobrevivemos a nós mesmos durante tanto tempo?

Diz o idiota em sua alma: Deus não existe...” diz o salmista logo no primeiro versículo do Salmo 14. Creio que este, após ter vislumbrado a fragilidade na qual vivemos, palha que se espalha pelo vento, que pela manhã é flor e a tarde se torna mato seco, não obteve resposta alguma que não seja:

Se não fora o Senhor que esteve ao nosso lado...” ou mesmo “Volta Jesus!!”
Como não ficar impressionado como algo tão capaz de falhar sobreviva por tanto tempo. Todo esse caos que somos, causamos e perpetuamos, não nos extingue (embora não falte quem nos mostre que estamos a caminho disso).

O plano perfeito é esse: que no final da imensa e trágica peça teatral em que estamos inseridos, o Autor dela  - e que de forma magistral o preserva - se apresente para que possamos aplaudi-lo ou vaia-lo, selando assim nosso destino.

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