Sem tempo para livros ruins

terça-feira, 10 de maio de 2011


Por Karl Keating

Nada justifica desperdiçar o tempo com leituras inúteis ou prejudiciais quando há tantos livros verdadeiramente bons e interessantes que podemos ler. Além do mais, devemos conseguir criar tempo para a leitura, renunciando aos nossos caprichos e frivolidades.
 

O escritor italiano Umberto Eco foi criado no catolicismo e abandonou a fé há muito tempo, mas ainda não abandonou o senso comum.

Vejamos o que escreveu recentemente: “Vivemos numa época supostamente cética. Na verdade, porém, vivemos numa época de uma credulidade ultrajante. A «morte de Deus», ou pelo menos a morte do Deus cristão, foi acompanhada pelo nascimento de uma pletora de novos ídolos. Ídolos que se multiplicaram como bactérias no cadáver da Igreja cristã: desde os mais estranhos cultos e seitas pagãos às superstições tolas e subcristãs do Código da Vinci”.

Umberto Eco disse ainda que “é impressionante a quantidade de pessoas que tomam esse livro ao pé da letra e pensam que é verdadeiro. Dan Brown, o autor, criou uma legião de zelosos seguidores que acreditam que Jesus não foi crucificado: Ele se teria casado com Maria Madalena, ocupado o trono da França e fundado a sua própria versão da Maçonaria. Muitas das pessoas que vão hoje ao Louvre procuram a Mona Lisa única e exclusivamente porque ela é um dos pontos centrais do livro de Brown”.

Estive numa grande livraria no último fim-de-semana. Próximo à entrada, havia um grande balcão cheio de coisas relacionadas com o O código Da Vinci: o próprio livro, logicamente, e os seus diversos derivados, com mais uma dúzia de livros que se aproveitam desse fenômeno editorial para divulgar os seus próprios “segredos” gnósticos.

Havia até jogos e quebra-cabeças relacionados com o livro de Brown. E, sim, havia três ou quatro livros anti-Código Da Vinci, mas ocupavam menos de dez por cento da área disponível. Predominavam as “superstições subcristãs”.

Não li O código Da Vinci nem pretendo fazê-lo. Em parte, porque a experiência me ensinou que qualquer livro que apareça na lista de best-sellers do The New York Times é uma perda de tempo; em parte, porque tenho pouco interesse pelo livro; e em parte (e é o motivo mais importante), porque tenho em casa uma longa prateleira com livros verdadeiramente interessantes e informativos dos quais estou tentando dar conta nos próximos meses.

Uns meses atrás, interrompi o meu estudo e dei uma olhada para as minhas estantes de livros. Desfizera-me de dezenas de livros nos últimos anos, mas muitos ainda estão lá – e muitos nunca foram lidos! Há alguns que tenho há décadas, desde os tempos do colégio. Muitos outros esperam pacientemente há dez ou vinte anos pelo dia em que serão lidos. Olho para eles e arrependo-me de ter desperdiçado o meu tempo em tantas coisas inúteis.

Uma delas foi a televisão. Lembro-me de que durante os anos do curso de Direito na universidade, ficava acordado até altas horas da noite assistindo a programas de entrevistas e filmes. Quantas horas não desapareceram nas fauces daquele tubo!

Faz dezesseis anos que deixei totalmente de assistir à televisão. Sei que faz todo esse tempo porque me lembro das gozações que recebia por ser a única pessoa que nunca tinha visto um episódio de Seinfeld, e esse seriado estreou em 1990. De modo que faz mais ou menos uns vinte anos que não sou um espectador regular.

Gostaria de poder dizer que empreguei o meu tempo sabiamente depois de abandonar a televisão. Não é o caso. Uma boa parte dele foi consumida com outras frivolidades. O meu consolo, porém, é que essas frivolidades eram geralmente inofensivas, ao passo que os programas de televisão são quase sempre nocivos à mente e à alma.

Isso é verdade mesmo para os noticiários, que filtram as notícias mais reais e preenchem o tempo com histórias manufaturadas. (Ninguém que confie nos noticiários de TV pode alcançar uma verdadeira compreensão das forças que atuam no mundo e no coração humano).

Neste mês, acho que estou fazendo progressos com os meus livros: espero terminar de ler quinze deles. Mantenho uma ficha de cada livro que leio desde 1982: autor, título, ano. Alguns anos são melhores que outros, e este ano será melhor que a média.

Por outro lado, gostaria de ser mais disciplinado. Mesmo que fosse capaz de manter indefinidamente a média deste último mês (o que é impossível, pois comecei muitos desses quinze livros nos meses anteriores, e alguns deles são finos), levaria ainda mais de uma década para ler os livros não lidos que tenho. Entretanto, é claro, irei comprando novos títulos. Se eu tivesse outros cinqüenta anos para viver!

Mas não tenho. Se tiver sorte, posso ter mais metade disso. Embora não existam meios para compensar completamente o tempo esbanjado, espero que consiga reformar algumas coisas. Espero aprender coisas que poderia ter aprendido há muito tempo atrás.

Só não quero morrer ignorante.


Karl Keating
Advogado, diretor do grupo norte-americano “Catholic Answers”, que, além do site de mesmo nome, é responsável pela revista de apologética “This Rock”.

Fonte: Catholic Answers
Link: http://www.catholic.com
Tradução: Quadrante

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