por Padre Ademilson Luiz Ferreira
Neste novo espaço formativo da Diocese de Marília, gostaria de partilhar com você leitor um tema muito atual e que diz respeito à vida de todos nós, especialmente de nossa juventude.
Transcrevo abaixo uma entrevista feita com a professora Célia Maria*, de Tupã, acerca do papel da Internet na vida dos jovens. A entrevista é parte de um trabalho de pós graduação, apresentado na aula do Pe. João Batista Libanio sobre “Tendências da Juventude na Pós Modernidade”, disciplina cursada no segundo semestre de 2009.
Pe. Ademilson:
Qual o papel da Internet na vida dos jovens?
Como o educador deve lidar com esta nova realidade na qual os jovens têm acesso a um monte de informações que muitas vezes são mal digeridas?
A “nova escrita” da internet fará com que as próximas gerações não aprendam a linguagem correta?
Célia:
Como professora, educadora e mãe de dois filhos (20 e 17 anos [hoje com 22 e 19 anos]) e ainda mais como mãe de um filho especial (a internet também o ajudou a se desenvolver), posso dizer que a internet é algo com o qual não podemos “brigar”. Ela “enfeitiçou” essa geração e também as gerações mais velhas. É uma delícia ficar horas e horas na frente do computador navegando nos diversos sites da web, quer para ler notícias, ver imagens, ler e-mails, entrar nos “chats”, ou simplesmente pra dar uma bisbilhotada em tudo sem compromisso algum.
Todavia, a internet não veio (eu acredito que nada o fará) para substituir o contato humano de um educador com o seu educando, ou seja, o zelo que devemos ter para com a formação pessoal do indivíduo, quer em âmbito físico, moral, intelectual ou espiritual.
Quando digo que nada substituirá o contato humano é porque erroneamente, no início dessa década, com a popularização dos microcomputadores e a aquisição desses pelas famílias de classe média, cogitou-se a possibilidade de num futuro próximo não haver mais escolas e nem professores. Talvez, as maravilhas proporcionadas com a facilidade de um simples “clicar” tenha levado os futuristas a vislumbrarem um mundo onde o ser humano também pudesse num simples clicar, transformar-se num ser completo e educado convenientemente.
Hoje, após alguns anos de fascínio, vive-se uma preocupação geral, por parte de educadores, sobre a internet e o excesso de informação mal digerida por nossos jovens que foram e estão cada vez mais plugados e dependentes da WEB pra tudo. De um lado estão os jovens que acham que para fazer um trabalho escolar basta “baixar” da internet, copiar, colar e entregar ao professor e não entendem porque o professor reclama que o trabalho não está bom; estão os jovens que, acostumados a fazer tudo rapidamente, sem reflexão alguma, lêem “por cima” as notícias postadas nos diversos sites, ou seja, não lêem nada e vão crescendo em seu orgulho, acreditando que sabem de tudo, que não precisam de nada nem de ninguém porque a internet lhes basta. De outro lado, estão os educadores querendo dar um basta nessa situação sem saber como e, desesperadamente pensam que seria melhor se retrocedêssemos no tempo e não usássemos a internet na escola, nem nos ambientes educacionais.
Pessoalmente, acredito que nós, educadores o somos por amor ao ser humano, nós temos um amor tão grande pelo “belo” que há dentro de cada ser humano que queremos que esse “belo” se manifeste em todos os seres humanos e, acreditamos também que somente com a educação esse ser pode se tornar tão “belo” quanto o plano que Deus traçou pra nós. Então, porque não usar a nosso favor a tecnologia? Por que não nos aproveitarmos de algo que veio pra ficar e fascina, de modo que seu uso seja positivo e não negativo?... Como fazê-lo?
Dedicando nosso tempo aos nossos educandos. Não permitindo que a internet ocupe todo o espaço da vida deles, sem orientação, sem limite de tempo, sem instrução e prescrição explícita do que é pra se fazer num determinado trabalho escolar, por exemplo, não permitindo que meu filho fique até alta madrugada em sites que eu não estou vendo por que estou dormindo, não permitindo que nossos jovens e crianças fiquem horas expostas aos jogos de computador em rede, enfim que nossos jovens não sejam “abandonados” no computador. Ele pode ser um meio a mais de construir conhecimento, mas não pode ser uma babá para o meu filho, nem um professor para meu aluno, tampouco um diretor espiritual para um jovem cristão.
Se nós, professores, pais, líderes religiosos, nos imbuíssemos mais de nossa responsabilidade de educadores e orientássemos melhor nossos jovens a respeito do uso da internet, não precisaríamos temer o futuro desses jovens em relação a sua formação cultural, pessoal e muito menos em relação ao uso da língua portuguesa, pois a língua é dinâmica e quem a determina é a fala gostosa do povo. A evolução lingüística é um fenômeno natural e incontrolável, não há meios de evitá-la. O que sempre houve foi a diferença entre a modalidade culta da modalidade coloquial da língua. A modalidade coloquial a criança aprende em casa, com a família, na rua com os coleguinhas, enfim é a língua natural, a modalidade culta, é a língua padrão que a criança vai aprender na escola, para poder se comunicar mais tarde nas diversas situações em que a vida assim o exigir. Desde que o jovem ou adolescente tenha uma escola de qualidade, onde ele entenda a diferença entre essas linguagens, ele entenderá que a linguagem usada na internet (o internetês), é mais uma modalidade da qual ele pode e deve se apropriar para fazer o uso devido, na hora e local devido. Eu sempre digo aos meus alunos que ninguém vai a um casamento com maiô de banho, assim como ninguém vai à praia de terno ou de vestido de festa, é por isso que não se pode ter só um tipo de roupa, e é por isso também que não se pode saber só um tipo de linguagem. Que a linguagem da internet é válida naquela situação, mas para fazer os trabalhos escolares e as redações de português eles devem entender que é a hora e a ocasião de usarem a língua padrão ou linguagem formal.
Sou exigente em relação a isso, creio que eles podem e devem buscar subsídios em sites de política, economia, ecologia, filosofia..., para a realização e enriquecimento de seus trabalhos e pesquisas, mas na hora de escrever e mostrar o que leram tem que escrever usando a língua padrão e mostrando seus conhecimentos com textos que apresentem introdução, argumentação opinativa e concluir apresentando solução para o problema de modo que respeitem a ética e os direitos humanos.
Isso dá trabalho, tenho que ler tudo, corrigir, comentar e, se possível até junto deles, mas assim tenho conseguido usar a internet a favor deles e não contra eles. Sinto que esse “trabalho” todo, vale mais a pena do que reclamar, proibir e obrigá-los a ler onde talvez eles não se sintam atraídos. Afinal, estou os obrigando a ler, e ler (não importa onde) é a melhor maneira de crescer desde que se esteja lendo verdadeiramente.
* Célia Maria Giansante Braite Leal
Professora de português na rede pública do Estado de São Paulo (Tupã – SP) – Ensino Fundamental e Ensino Médio.
Formada em Letras-Tradutor pela UNESP de São José do Rio Preto – Licenciatura em Inglês e Bacharelado em Francês.
Formada em Pedagogia pela UNIMAR (Universidade de Marília – SP).
Célia Maria é paroquiana da Paróquia São Judas Tadeu (Tupã - Diocese de Marília - SP).
Transcrevo abaixo uma entrevista feita com a professora Célia Maria*, de Tupã, acerca do papel da Internet na vida dos jovens. A entrevista é parte de um trabalho de pós graduação, apresentado na aula do Pe. João Batista Libanio sobre “Tendências da Juventude na Pós Modernidade”, disciplina cursada no segundo semestre de 2009.
Pe. Ademilson:
Qual o papel da Internet na vida dos jovens?
Como o educador deve lidar com esta nova realidade na qual os jovens têm acesso a um monte de informações que muitas vezes são mal digeridas?
A “nova escrita” da internet fará com que as próximas gerações não aprendam a linguagem correta?
Célia:
Como professora, educadora e mãe de dois filhos (20 e 17 anos [hoje com 22 e 19 anos]) e ainda mais como mãe de um filho especial (a internet também o ajudou a se desenvolver), posso dizer que a internet é algo com o qual não podemos “brigar”. Ela “enfeitiçou” essa geração e também as gerações mais velhas. É uma delícia ficar horas e horas na frente do computador navegando nos diversos sites da web, quer para ler notícias, ver imagens, ler e-mails, entrar nos “chats”, ou simplesmente pra dar uma bisbilhotada em tudo sem compromisso algum.
Todavia, a internet não veio (eu acredito que nada o fará) para substituir o contato humano de um educador com o seu educando, ou seja, o zelo que devemos ter para com a formação pessoal do indivíduo, quer em âmbito físico, moral, intelectual ou espiritual.
Quando digo que nada substituirá o contato humano é porque erroneamente, no início dessa década, com a popularização dos microcomputadores e a aquisição desses pelas famílias de classe média, cogitou-se a possibilidade de num futuro próximo não haver mais escolas e nem professores. Talvez, as maravilhas proporcionadas com a facilidade de um simples “clicar” tenha levado os futuristas a vislumbrarem um mundo onde o ser humano também pudesse num simples clicar, transformar-se num ser completo e educado convenientemente.
Hoje, após alguns anos de fascínio, vive-se uma preocupação geral, por parte de educadores, sobre a internet e o excesso de informação mal digerida por nossos jovens que foram e estão cada vez mais plugados e dependentes da WEB pra tudo. De um lado estão os jovens que acham que para fazer um trabalho escolar basta “baixar” da internet, copiar, colar e entregar ao professor e não entendem porque o professor reclama que o trabalho não está bom; estão os jovens que, acostumados a fazer tudo rapidamente, sem reflexão alguma, lêem “por cima” as notícias postadas nos diversos sites, ou seja, não lêem nada e vão crescendo em seu orgulho, acreditando que sabem de tudo, que não precisam de nada nem de ninguém porque a internet lhes basta. De outro lado, estão os educadores querendo dar um basta nessa situação sem saber como e, desesperadamente pensam que seria melhor se retrocedêssemos no tempo e não usássemos a internet na escola, nem nos ambientes educacionais.
Pessoalmente, acredito que nós, educadores o somos por amor ao ser humano, nós temos um amor tão grande pelo “belo” que há dentro de cada ser humano que queremos que esse “belo” se manifeste em todos os seres humanos e, acreditamos também que somente com a educação esse ser pode se tornar tão “belo” quanto o plano que Deus traçou pra nós. Então, porque não usar a nosso favor a tecnologia? Por que não nos aproveitarmos de algo que veio pra ficar e fascina, de modo que seu uso seja positivo e não negativo?... Como fazê-lo?
Dedicando nosso tempo aos nossos educandos. Não permitindo que a internet ocupe todo o espaço da vida deles, sem orientação, sem limite de tempo, sem instrução e prescrição explícita do que é pra se fazer num determinado trabalho escolar, por exemplo, não permitindo que meu filho fique até alta madrugada em sites que eu não estou vendo por que estou dormindo, não permitindo que nossos jovens e crianças fiquem horas expostas aos jogos de computador em rede, enfim que nossos jovens não sejam “abandonados” no computador. Ele pode ser um meio a mais de construir conhecimento, mas não pode ser uma babá para o meu filho, nem um professor para meu aluno, tampouco um diretor espiritual para um jovem cristão.
Se nós, professores, pais, líderes religiosos, nos imbuíssemos mais de nossa responsabilidade de educadores e orientássemos melhor nossos jovens a respeito do uso da internet, não precisaríamos temer o futuro desses jovens em relação a sua formação cultural, pessoal e muito menos em relação ao uso da língua portuguesa, pois a língua é dinâmica e quem a determina é a fala gostosa do povo. A evolução lingüística é um fenômeno natural e incontrolável, não há meios de evitá-la. O que sempre houve foi a diferença entre a modalidade culta da modalidade coloquial da língua. A modalidade coloquial a criança aprende em casa, com a família, na rua com os coleguinhas, enfim é a língua natural, a modalidade culta, é a língua padrão que a criança vai aprender na escola, para poder se comunicar mais tarde nas diversas situações em que a vida assim o exigir. Desde que o jovem ou adolescente tenha uma escola de qualidade, onde ele entenda a diferença entre essas linguagens, ele entenderá que a linguagem usada na internet (o internetês), é mais uma modalidade da qual ele pode e deve se apropriar para fazer o uso devido, na hora e local devido. Eu sempre digo aos meus alunos que ninguém vai a um casamento com maiô de banho, assim como ninguém vai à praia de terno ou de vestido de festa, é por isso que não se pode ter só um tipo de roupa, e é por isso também que não se pode saber só um tipo de linguagem. Que a linguagem da internet é válida naquela situação, mas para fazer os trabalhos escolares e as redações de português eles devem entender que é a hora e a ocasião de usarem a língua padrão ou linguagem formal.
Sou exigente em relação a isso, creio que eles podem e devem buscar subsídios em sites de política, economia, ecologia, filosofia..., para a realização e enriquecimento de seus trabalhos e pesquisas, mas na hora de escrever e mostrar o que leram tem que escrever usando a língua padrão e mostrando seus conhecimentos com textos que apresentem introdução, argumentação opinativa e concluir apresentando solução para o problema de modo que respeitem a ética e os direitos humanos.
Isso dá trabalho, tenho que ler tudo, corrigir, comentar e, se possível até junto deles, mas assim tenho conseguido usar a internet a favor deles e não contra eles. Sinto que esse “trabalho” todo, vale mais a pena do que reclamar, proibir e obrigá-los a ler onde talvez eles não se sintam atraídos. Afinal, estou os obrigando a ler, e ler (não importa onde) é a melhor maneira de crescer desde que se esteja lendo verdadeiramente.
* Célia Maria Giansante Braite Leal
Professora de português na rede pública do Estado de São Paulo (Tupã – SP) – Ensino Fundamental e Ensino Médio.
Formada em Letras-Tradutor pela UNESP de São José do Rio Preto – Licenciatura em Inglês e Bacharelado em Francês.
Formada em Pedagogia pela UNIMAR (Universidade de Marília – SP).
Célia Maria é paroquiana da Paróquia São Judas Tadeu (Tupã - Diocese de Marília - SP).
Padre Ademilson Luiz Ferreira
Pe. Ademilson Luiz Ferreira, membro do presbitério de Marília, atualmente está cursando Mestrado em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE) de Belo Horizonte/MG (onde reside).E-mail: pe.ade
2 comentários:
Já Divulguei em meus contatos! Concordo com o padre ADEMILSON. A INTERNET NÃO SUBSTITUI OS CONTATOS PESSOAIS!
Usamos a internet, sem deixar de lado nossa amizade e amor pessoal as pessoas!
Paz e Bem!
Obrigado por divulgar, Sofrendo. Eu mesmo passo por um sofrimento muito duro mas tento confiar em Deus.
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