Como pensa um louco e como argumentar com ele

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012


Chesterton responde o que se deve fazer quando se discute com um louco. O louco aqui não é apenas uma pessoa com problemas mentais, mas alguém muito comum em nossas universidades. Aquele que chega no dia de discutir um livro na sala sem ler o livro, mas quer ter uma opinião brilhante sobre o assunto. Ele geralmente começa dizendo: "não li, mas eu acho...". São aqueles que têm uma simples explicação para tudo. Por exemplo, eles dizem que os capitalistas são ladrões ou que os judeus são cruéis ou que a religião é o ópio do povo. Este louco pode até ser uma pessoa inteligente e seus argumentos podem apresentar lógica, mas não explicam nada.
Também já fiquei chateado no Youtube por certos ateístas militantes no Brasil que nem sabiam que existia o termo neoateu para se referir ao ateísta militante antireligioso e por isso até me tacharam de preconceituoso e intolerante para com ateus (!!!)
Realmente, eu gostaria de saber onde estavam esses indivíduos que distorceram o que falei em meus vídeos, explicando que critico o neoateísmo e não o ateísmo. Será que eles estavam ouvindo Michel Teló enquanto a revista Wired e outros meios ateus no mundo (além de Dawkins, Hitchens & Friends) já espalhava para o mundo o termo novo-ateísmo? Será que fui eu que inventei isso? Imaginem a confusão que causaram por este simples mal entendido.

Na internet o que mais se vê são argumentos fracos e muito mal escritos. Mas muitas vezes aparecem argumentos desses loucos. O cara começa com uma frase forte, atacando alguém, e quando vai justificar seu argumento, usa frases curtas, desconexas e ainda usa reticências e coloca interjeições do tipo, ha ha, he he e símbolos mostrando rostos zangados ou tristes.

Chesterton ensina no livro Ortodoxia o que se deve fazer se for obrigatório discutir com este tipo. Este livro mudou meu modo de pensar. Eu não conseguiria dizer o quanto recomendo este livro. Agradeço ao blog
Canterbury Tales por selecionar as partes sobre os loucos. Vamos ao que diz Chesterton (em azul):

Se você for discutir com um louco, é extremamente provável que você leve a pior - em muitos aspectos, a mente do louco se move mais rápido porque não é refreada pelas coisas que são do bom senso, nem é prejudicada pela chacota ou pela pena, nem pelas certezas da experiência da vida; A mente de um louco se julga a mais lógica, porque não tem apego à sanidade - dessa forma, podemos dizer que o louco não é o homem que perdeu a razão, mas, sim, o homem que perdeu tudo, exceto a razão.
 
A explicação do louco a respeito de alguma coisa é sempre completa, e, muitas vezes, racional, satisfatória - ou, para falar de forma mais rigorosa, a explicação insana, se não for conclusiva, é pelo menos incontestável, o que pode ser observado especialmente nestes dois ou três tipos mais comuns de loucura.
1) Se um homem diz, por exemplo, que os homens têm uma conspiração contra ele, você não deve responder a ele, dizendo que todos os homens negam que são conspiradores - pois é, exatamente, o que os verdadeiros conspiradores fazem.  A explicação do louco abrange os fatos, tanto quanto a sua.
2) Se um homem diz que ele é o legítimo Rei de Inglaterra, não é resposta certa dizer, se você fosse uma autoridade constituída, que ele é louco, pois, se ele fosse o rei da Inglaterra, esta seria a coisa mais sábia que as autoridades constituídas poderiam dizer.
3) Se um homem diz que ele é Jesus Cristo, não é resposta sábia lhe dizer que o mundo nega a sua divindade, pois o mundo negou a Cristo, e isso é fato.
A mente de um louco se move em um círculo perfeito, mas estreito. Um pequeno círculo é tão infinito quanto um grande círculo - embora seja tão infinito, não é tão grande.
A teoria do lunático explica um grande número de coisas, mas não as explica de uma forma geral. Se pudéssemos expressar nossos mais profundos sentimentos de protesto e apelo contra a obsessão do louco, suponho que deveríamos dizer algo como isto: "Oh, eu admito que você tem o seus argumentos e que os sabe de cor, e que muitas coisas se encaixam noutras coisas, da forma como você diz. Admito que a sua explicação explica muita coisa, mas deixa uma grande quantidade de coisas fora! Você acha que não há outras histórias no mundo, exceto a sua? Você acha que todos os homens estão preoocupados com a sua lógica? Suponha que nós conheçamos os detalhes de tudo, que tenhamos a onisciência - talvez deva ter sido astúcia sua ver aquilo que o homem da rua não parecia ver, ou que você já deva ter sabido de antemão quando o policial veio até ele e perguntou-lhe o nome, tão-somente. Do jeito que você é, talvez você seria mais feliz se soubesse que essas pessoas realmente não se importam em nada com você! E que sua vida seria grandiosa, se você pudesse realmente olhar para os outros homens e vê-los, andando como estão andando, de maneira egoísta e indiferente, com curiosidade e olhar comum! Você pode até começar a se interessar por essas pessoas, pelo fato não estarem interessadas em você - mas você iria acabar saindo desse teatro pequeno, e de mau gosto, cujo enredo próprio, pequeno e mundano, está sempre sendo representado por você mesmo e que terminaria se encontrando (por coincidência, sob o mais pleno céu azul!), em uma rua cheia de estranhos esplêndidos".
Curar um louco não é discutir com um filósofo, mas, sim, expulsar um demônio.

Isto é apenas uma palhinha do livro Ortodoxia. Leiam. 
Em suma, com o louco, você não pode convencê-lo a entrar no mundo real. Você deve entrar em seu universo e expô-lo como uma fraude. É muito perigoso, mas assim são os exorcismos. Orar, jejuar, e proceder com cautela com os malucos da Internet. Eu simplesmente tento evitá-los.
Escrito por mim com partes condensadas de http://pedrodaveiga.blogspot.com/ Quero agradecer meu amigo José Octavio Dettmann pela revisão do texto do Chesterton.
 
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Quem foi Chesterton?
Chesterton nasceu em Londres no dia 29 de maio de 1874. Chesterton tinha 1,93 metros e pesava 135 quilos e nunca fez faculdade. Ele escreveu mais de cem livros sobre os mais diversos assuntos, incluindo poemas, peças de teatro, romances e uma série de detetives (Padre Brown), que inclusive gerou um filme chamado The Detective.
Gilbert Keith Chesterton (1874-1936) é um dos maiores pensadores católicos do século XX e, infelizmente, por diversos motivos, desconhecido  no Brasil.

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