Qual é o rumo da sua vida? Que direção você tem dado para o seu casamento, para o seu namoro, para a sua vida afetiva, para a sua sexualidade? Que rumo tem tomado sua vida profissional? Você se dá conta de que a direção da sua vida é dada por você, ou ainda pensa que ela é manipulada por uma mão invisível, à qual você chama de “Deus”, “destino”, “karma”, “mercado”, ou outro nome qualquer?
Cada um de nós é responsável pela direção que, com as suas escolhas e atitudes, dá à própria vida, e ninguém de nós gosta de voltar. Voltar significa retroceder, e nós queremos ir sempre em frente, mesmo percebendo que alguma coisa diz que a direção da nossa vida não está correta e estamos, na verdade, caminhando rumo a um buraco, cavado por nós mesmos.
As primeiras palavras que Deus pronuncia à nossa consciência na abertura deste tempo de quaresma são essas: “Voltai para mim com todo o vosso coração” (Jl 2,12). Porque nós somos responsáveis pelo rumo que estamos dando à nossa vida, Deus nos convida a nos voltar para Ele, ainda que isso implique, algumas vezes, em voltar atrás: “(…) presta atenção ao percurso, no caminho que caminhaste. Volta, Virgem de Israel!” (Jr 31,21). “Volta, Israel, ao Senhor teu Deus, pois tropeçaste em tua falta. Tomai convosco palavras de arrependimento sincero, e voltai ao Senhor” (Os 14,2-3). Como vemos, voltar não significa caminhar para trás, mas corrigir o rumo da própria vida.
Segundo Jesus, corrigir o rumo da nossa vida significa praticar a justiça. Aqui duas coisas são importantes considerar. A primeira é que praticar supõe assumir atitudes concretas e não meras intenções. A segunda é que praticar a justiça significa ajustar nossa vida à vontade de Deus, dizendo com o salmista: “Eu reconheço a minha iniqüidade… Pratiquei o que é mau aos vossos olhos!” (Sl 51,5-6).
Três atitudes concretas reorientam a nossa vida na direção da justiça. A primeira é a esmola. Dar esmola significa reparar nossa relação com o próximo. Isso questiona o nosso individualismo, a nossa compreensão egoísta da vida, e nos mostra que a pobreza que existe à nossa volta é fruto da injustiça social, uma injustiça construída com a colaboração direta do nosso egoísmo. A segunda atitude concreta é a oração. Orar significa reparar nossa relação com Deus, compreendendo que a nossa oração é boa não quando saímos dela nos sentindo bem, mas quando saímos dela dispostos a fazer a vontade de Deus, expressa sua Palavra.
Por fim, a terceira atitude concreta que nos torna justos aos olhos de Deus é o jejum. Jejuar significa reparar nossa relação com a nossa liberdade interior, com os nossos desejos. Podemos assumir o jejum nesta quaresma como atitude de cortar o excesso do nosso consumo; podemos jejuar das palavras que ofendem e das atitudes que causam o mal a nós mesmos e aos outros; podemos jejuar como purificação dos nossos desejos, da nossa vontade, reeducando a nossa liberdade.
Um alerta final de Jesus para nós: quando nos dispusermos a reparar nossa relação com o próximo (esmola), com Deus (oração) e com a nossa liberdade interior (jejum), façamos isso não para sermos elogiados pelos homens; façamos isso por Deus, perante Deus e para a maior glória de Deus. Enfim, como pede o apóstolo Paulo, deixemo-nos reconciliar com Deus e não recebamos em vão a Sua graça neste tempo de quaresma, pois “é agora o momento favorável, é agora o dia da salvação” (cf. 2Cor 5,20; 6,1). É agora o tempo de voltar e de reorientar a direção da nossa vida.
Tenha um fecundo tempo de quaresma!
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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