O “testamento” de Santa Bernadette

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012


Eu tenho aqui um extrato de um jornal de Messina (Itália), de 6 de junho de 1965, que dá uma série de pensamentos à maneira de testamento de Santa Bernadette Soubirous. Então diz o seguinte:

“Pela miséria de meu pai e pela ruína do moinho no qual moravam e pelos vários fatos infelizes que se deram em conseqüência, por termos tomado, devido inclusive o vinho do cansaço, pelas ovelhas doentes, graças vos dou, Senhor.

Eram vários infortúnios que tinham acontecido ao pai e que tinha reduzido a família do pai à miséria. É um italiano complicado esse aqui. O que quer dizer isso aqui? Comer demais, é isso?

“Pelos meninos acudidos, pelas ovelhas que tomáveis conta, graças vos dou, Senhor. Graças, ó meu Deus, pelo... pelo comissário, pelas polícias, pelas duras palavras de Dom Peyramale.

Ela foi perseguida, foi levada à polícia, maltratada pelos comissários, e o padre vigário de lá lhe disse muito duras palavras. Então, por tudo isso, diz ela: “graças vos dou, Senhor”.

“Por aqueles dias em que Vós me aparecestes, ó Virgem Maria. Por aqueles dias em que Vós não aparecestes, eu não vos saberia agradecer de outra maneira a não ser agradecendo-vos no Paraíso. Mas pelos debiques recebidos, pelas injúrias e pelos ultrajes, por aqueles que me mandaram prender como doida, pela cólera que tiveram contra mim, por aqueles que me tomaram como interesseira, graças vos dou, Senhora".

“Pela ortografia que eu jamais consegui aprender, pela memória que eu jamais tive, pela minha ignorância e por todo o meu... mental, graças vos dou, Senhora. Graças, graças porque se houvesse sobre a terra uma menina mais ignorante e mais estúpida do que eu, Vós a teríeis escolhido para aparecer. Por minha mãe, morta há muito tempo; pelo sofrimento que eu tive quando meu pai, em vez de abrir os braços à sua pequena Bernadette, me chamou soror Maria Bernard, graças ó Jesus".

Ela era freira e o pai foi vê-la. E em vez de chamá-la Bernardette, chamou-a soror Maria Bernard, com cerimônia. Eu creio - não me lembro bem do episódio da vida - mas talvez também com má vontade. E ela teve um choque com isso.

“Graças por ter me dessedentado de amarguras a esse coração por demais tenro que Vós me destes. Por Madre Josefina que me proclamou ‘boa para nada’... "

Quer dizer, não prestava para nada: "muito obrigado".

“Pelos sarcasmos da madre mestra de noviças, pela sua voz dura, pelas injustiças, pelas ironias, pelo pão da humilhação, muito obrigado. Graças por ter sido Bernadette ameaçada de prisão porque tinha visto a Virgem Maria, olhada pelas pessoas como um animal raro, aquela Bernadette tão mesquinha que, ao vê-la, se dizia É tudo isso?"

“Mesquinha” quer dizer tão "pouca coisa", tão pequenina.

Bernadette inclusive era extremamente baixinha. Então, quando iam ver Santa Bernadette pensavam numa santa que tinha visto Nossa Senhora... e entrava um toquinho de gente com cara de analfabeta. A pessoa dizia: “É isso? É exatamente só isso?!” Depois isso dito por francês...

"Por esse corpo miserável que Vós me destes, por essa doença de fogo e de fumo... pelas minhas carnes em putrefação, pelos meus ossos com cáries, pelos meus suores, pela minha febre, pelas minhas dores surdas e agudas, graças ó meu Deus. E por essa ânsia que Vós me destes para o deserto da aridez interior, pela vossa noite e pelos vossos relâmpagos, pelos vossos silêncios, mais uma vez, por tudo, por Vós ausente e presente, graças, ó Jesus".

(Autor: Plinio Corrêa de Oliveira, 16 de abril de 1970. Texto não revisto pelo autor).

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