Por uma cosmovisão cristã

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012




CRISTIANISMO VERSUS NATURALISMO 
Qual é o maior desafio hoje? Nas categorias mais amplas, o conflito de nosso dia é o teísmo contra o naturalismo. Teísmo é a crença de que há um Deus transcendente que criou o Universo; naturalismo é a crença de que causas naturais sozinhas são suficientes para explicar tudo o que existe. As questões mais fundamentais reflectem essas categorias: A realidade última é Deus ou o cosmos? Há um reino espiritual, ou a natureza é tudo o que existe? Deus falou e revelou sua verdade a nós, ou a verdade é algo que temos que achar, ou até inventar para nós mesmos? Há um propósito para as nossas vidas, ou somos acidentes cósmicos emergindo da lama?

A definição da visão de mundo
Segundo a Wikipedia, uma visão de mundo "é a orientação fundamental cognitiva de um indivíduo ou a sociedade que engloba a filosofia natural, fundamental existencial e postulados normativos ou temas, valores, emoções e ética. O termo é uma tradução de empréstimo do alemão Weltanschauung , composto por Welt, "mundo", e Anschauung, 'visão'. É um conceito fundamental para a filosofia e epistemologia alemã e refere-se a uma percepção mundial. Além disso, refere-se ao quadro de idéias e crenças através do qual um indivíduo interpreta o mundo e interage com ele. "

O que é uma cosmovisão cristã?
A cosmovisão cristã "é identificada primeiramente como um conjunto de doutrinas ou um sistema de crenças"
Francis Beckwith oferece uma definição de visão de mundo. Ele diz:
O que queremos dizer é que a fé cristã é uma tapeçaria de idéias filosóficas interdependentes, princípios e afirmações metafísicas que são derivadas a partir das Escrituras hebraico-cristã, bem como os credos, teologias, comunidades, normas éticas, e instituições que floresceram sob o autoridade desses escritos. Estas crenças não são meras expressões de devoção religiosa privada, mas são proposições cujos proponentes afirmam com precisão nos instruir sobre a natureza do universo, pessoas humanas, a nossa relação com Deus, as comunidades humanas e na vida moral. (Francis Beckwith, Para todos uma resposta: Uma defesa da cosmovisão cristã: Ensaios coletados por Norman L . Geisler como citado em James KA Smith, Desejando o Reino)
  
Esses dois sistemas principais (o cristianismo e o naturalismo) são, em última instância, diametralmente opostos; e se vamos defender nossa fé efectivamente, devemos entender suas implicações por completo. Naturalismo é a ideia de que a natureza é tudo o que existe, que a vida surgiu de uma colisão de átomos por acaso, evoluindo mais tarde para a vida humana como a conhecemos hoje. No sentido mais amplo, naturalismo pode até incluir certas formas de religião – aquelas em que o espiritual é concebido como totalmente inerente à natureza, como as religiões neopagãs e a Nova Era. Em contraste, o Cristianismo ensina que há um Deus transcendente que existe antes de o mundo vir a existência, que Ele é a origem última de todas as coisas. O universo é dependente a todo o momento de seu governo e cuidado providencial.
Relativismo Moral. Na moralidade, o naturalismo resulta em relativismo. Se a natureza é tudo o que há, então não há uma fonte transcendente de verdade moral, e podemos construir nossa própria moralidade. Todo princípio é reduzido a uma preferência pessoal. Em contraste, os cristãos acreditam em um Deus que tem falado, que revelou um padrão absoluto e imutável de certo e errado, baseado, em última instância, em seu próprio carácter santo.
Multiculturalismo. Como consequência do relativismo, os naturalistas tratam todas as culturas como moralmente equivalentes, cada uma meramente reflectindo sua própria história e experiência. Tendências contemporâneas como pós-modernismo e multiculturalismo estão profundamente enraizadas no naturalismo, pois se não há nenhuma força transcendental de verdade ou moralidade, então achamos nossa identidade somente em nossa raça, género ou grupo étnico. Mas os cristãos jamais poderiam igualar a verdade com a perspectiva limitada de nenhum grupo. A verdade é a perspectiva de Deus, como revelada nas Escrituras. Por essa razão, enquanto apreciamos a diversidade cultural, insistimos na propriedade de julgar práticas particulares de culturas como certas ou erradas. Além do mais, os cristãos consideram a tradição e a herança ocidentais como dignas de serem defendidas; isto é, na medida em que elas tenham sido historicamente formadas por uma cosmovisão bíblica.
Pragmatismo. Desde que os naturalistas negam quaisquer padrões transcendentes de moral, eles tendem a fazer uma abordagem pragmática da vida. O pragmatismo diz: O que funcionar melhor é o certo. Acções e métodos são julgados somente sob base utilitária. Em contraste, o cristão é um idealista, julgando acções não pelo que dá certo, mas pelo que deve ser, baseado em padrões objectivos.
Utopia. Os naturalistas geralmente abraçam a noção iluminista de que a natureza é essencialmente boa, o que leva ao utopismo. O utopismo diz: Se tão somente criarmos as estruturas sociais e económicas certas, podemos ser conduzidos a uma era de harmonia e prosperidade. Mas os cristãos jamais poderão legitimar os projectos utópicos. Sabemos que o pecado é real, que tem distorcido a natureza humana profundamente, e que nenhum de nossos esforços pode criar o céu aqui na terra. O céu é uma esperança escatológica que será cumprida somente com a intervenção divina no fim da história. Nesse meio tempo, a tendência humana para a maldade e a desordem deve ser controlada por lei e tradição.
Perspectiva deste mundo. Os naturalistas só consideram o que acontece neste mundo, nesta época, nesta vida. Mas os cristãos vêem as coisas sob perspectiva eterna. Tudo o que fazemos agora tem significado eterno, porque um dia haverá julgamento, e então se tornará evidente que nossas escolhas na vida tiveram consequências que durarão por toda a eternidade.
(E Agora, Como Viveremos?; Charles Colson & Nancy Pearcey; CPAD; pp. 38-40)
Os contornos de um sistema de vida cristão se tornarão claros nas quatro secções que se seguem: criação – Deus trouxe o mundo à existência através da sua palavra e criou a humanidade à sua imagem; queda – a condição humana é desfigurada pelo pecado; redenção – Deus em sua graça proveu uma maneira de nos reconciliar consigo mesmo; e restauração – somos chamados a trazer esses princípios a todas as áreas da vida e criar uma nova cultura. Equipados deste entendimento, podemos mostrar não somente que a cosmovisão cristã oferece as melhores respostas – respostas que concordam com o senso comum e com a mais avançada ciência – mas também que cristãos podem tomar as armas espirituais na grande luta cósmica entre cosmovisões conflitantes.
(E Agora, Como Viveremos?; Charles Colson & Nancy Pearcey; CPAD; pp. 58)

Da Cosmovisão Centrada em Deus para a Cosmovisão Centrada no Homem
Duzentos anos depois da Reforma do século XVI, a Europa conheceu o iluminismo. Em Weimar, Alemanha, visitei a casa de Goethe e fiquei impressionado com os artefactos provenientes do mundo inteiro, particularmente da Grécia e Roma, mas também da China e Japão. É óbvio que Goethe apreciava a arte, mas ele também queria fazer uma declaração teológica: outras religiões, até as religiões pagãs, podem produzir uma cultura tão avançada quanto o cristianismo. Portanto, o cristianismo não deve ser considerado como tendo lugar especial na história da raça humana, mas estudado como uma entre muitas religiões que realmente ajudam.
Quando o homem viu-se como o centro de todo o conhecimento, ele definiu religião de acordo com suas próprias expectativas e desejos. A religião não era mais estimada como busca do homem para correctamente ajustar sua vida às exigências de Deus, mas como um sistema de crenças que o ajuda a atingir seu pleno potencial.

Joseph Haroutunian, destacado historiador, comentou:
Antes, a religião era centralizada em Deus. Antes, tudo o que não conduzia à glória de Deus era infinitamente mau; hoje, o que não contribui para a felicidade do homem é mau, injusto e impossível de atribuir à deidade. Antes, o bem do homem consistia basicamente em glorificar a Deus; hoje, a glória de Deus consiste no bem do homem. Antes, o homem vivia para glorificar a Deus; hoje, Deus vive para servir o homem.
O iluminismo não era contra a religião; apenas declarava que nosso conhecimento de Deus não deveria vir da Bíblia, mas pela luz universal da natureza. Como tais, todas as religiões do mundo eram essencialmente iguais, fundamentadas como estavam na observação natural e na experiência. A Bíblia foi vista como um livro proveitoso, mas não considerada a revelação de um Deus pessoal. A razão humana foi elevada acima da revelação.
O iluminismo foi uma benção mesclada. Por um lado, enfatizou a liberdade religiosa e a tolerância no melhor sentido da palavra. Dois séculos antes, a Reforma protestante tinha inspirado uma nova atitude em regiões da Europa. Ele deu ênfase muito necessária na liberdade de aprendizagem e na liberdade de consciência.
Infelizmente, o iluminismo também introduziu densas trevas. Quando a Alemanha (e toda a Europa, no que diz respeito ao assunto) resolveu optar por aquela teologia mais amável e gentil, referida anteriormente, o Evangelho de Cristo ficou obscurecido. O homem tornou-se o juiz da religião e da moralidade, e apesar dos ideais nobres, as trevas – profundas trevas – desceram.
Crimes cometidos em nome da religião (e houve muitos) empalideceram de insignificância em comparação com os crimes cometidos em nome de uma visão ateísta do homem e do mundo. Não é apenas um acidente histórico que Buchenwald, um dos campos de concentração de Hitler, esteja situado a somente seis quilómetros de Weimar – uma ironia que evidentemente não passou despercebida pelo Fuhrer. Contaram-me que ele teve o pervertido prazer de estabelecer um campo da morte bem junto aos limites da cidade que era o orgulho da tolerância e da glória do homem.
É um escândalo, além de irónico, que quando os homens se livram das disciplinas da religião revelada, a liberdade acabe em escravidão. A tirania religiosa deve, é claro, ser abominada; mas quando o género humano usa a ambicionada liberdade para negar Deus, segue-se uma tirania pior.
Quando perguntaram a Solzenitsyn como poderia tantos milhões de pessoas serem brutalmente assassinadas sob a bandeira do ateísmo, ele respondeu: “Nós nos esquecemos de Deus”. Dostoiévski tinha razão: “Quando Deus não existe, tudo é permitido”.

Falando dos falsos mestres, Pedro escreve: “Prometendo-lhes liberdade, sendo eles mesmos servos da corrupção. Porque de quem alguém é vencido, do qual faz-se também servo” (2 Pedro 2.19).
Esta troca de pensamento levou a outras óbvias mudanças no modo como a verdade (se é que ela existe) foi vista. Ideias trazem consequências. Quando subimos a bordo de um trem ideológico, temos de ir até o seu destino final.
(Erwin E. Lutzer; Cristo Entre Outros Deuses; CPAD; pp. 34-36)
A maneira como vemos o mundo pode mudar o mundo.
(Charles Colson & Nancy Pearcey; E Agora Como Viveremos?; CPAD; 32)
Nossas escolhas são formadas pelo que acreditamos ser real e verdadeiro, certo e errado, bom e bonito. Nossas escolhas são formadas pela nossa cosmovisão ou “visão de mundo”.
(Charles Colson & Nancy Pearcey; E Agora Como Viveremos?; CPAD; 32)
Nossa maior tarefa na vida é descobrir o que é verdadeiro e viver de acordo com essa verdade. Como vimos anteriormente, toda cosmovisão pode ser analisada pela maneira como responde a três perguntas básicas: De onde viemos, e quem somos (criação)? O que deu errado com o mundo (queda)? E o que podemos fazer para consertar isso (redenção)? Estas três perguntas formam uma grade que podemos usar para quebrar a lógica interna de todo o sistema de crença ou filosofia que encontrarmos, dos livros escolares em nossas salas de aula até as filosofias implícitas que dão forma à mensagem que ouvimos no programa de auditório de Ophra Winfrey.
(Charles Colson & Nancy Pearcey; E Agora Como Viveremos?; CPAD; 32)
A base da cosmovisão cristã, é calro, é a revelação de Deus nas Escrituras. Ainda assim, tristemente, muitos fiéis não conseguem entender que as Escrituras são intencionadas para ser a base de toda a vida. Nos séculos passados, o mundo secular estabeleceu uma dicotomia entre ciência e religião, entre facto e valor, entre conhecimento objectivo e sentimento subjectivo. Como resultado, os cristãos costumam pensar em termos da mesma falsa dicotomia, permitindo que nosso sistema de crença seja reduzido a pouco mais que sentimentos e experiências privados, completamente divorciado dos factos objectivos.
(Charles Colson & Nancy Pearcey; E Agora Como Viveremos?; CPAD; 32)
Mas a ênfase demasiada no relacionamento pessoal pode ser também a maior fraqueza de todos nós, evangélicos, porque pode impedir-nos de ver o plano de Deus para a nossa vida além do ponto da salvação pessoal. O Cristianismo genuíno é mais do que relacionamento com Jesus, tanto quanto se expressa em piedade pessoal, frequência à Igreja, estudo da Bíblia e obras de caridade. É mais do que discipulado, mais do que acreditar em um sistema de doutrinas sobre Deus. O Cristianismo genuíno é uma maneira de ver e compreender toda a realidade. É uma cosmovisão, uma visão do mundo.
A base bíblica para esse entendimento é a narrativa da criação, onde nos é dito que Deus falou e tudo veio a existir do nada (ver Génesis 1 e João 1,1-14). Tudo o que existe veio à existência mediante o seu comando, e é por essa razão sujeito a Ele, encontrando propósito e sentido nEle. A implicação é que em todo o assunto que investigamos, desde ética económica até ecologia, a verdade só é encontrada em conexão com Deus e sua revelação. Deus criou o mundo natural e as leis naturais. Deus criou os nossos corpos e as leis morais que nos mantêm saudáveis. Deus criou as nossas mentes e as leis da lógica e da imaginação. Deus nos criou como seres sociais e nos deu princípios para instituições sociais e políticas. Deus criou um mundo de beleza e princípios de criação estética e artística. Em toda área da vida, conhecimento genuíno significa discernir as leis e ordenanças pelas quais Deus estabeleceu a criação, e então permitir que essas leis modeles a maneira pela qual devemos viver.
Como diziam os pais da igreja, toda verdade é verdade de Deus. (…)
(Charles Colson & Nancy Pearcey; E Agora Como Viveremos?; CPAD; 33)
A guerra cultural não é sobre aborto, direitos dos homossexuais, ou o declínio da educação pública. Esses são apenas os conflitos. A verdadeira guerra é uma luta cósmica entre a cosmovisão cristã e as várias cosmovisões seculares e espirituais que estão em ordem de combate contra ela. Isso é o que devemos entender se vamos ser efectivos tanto em evangelizar nosso mundo hoje, como em transformá-lo para reflectir a sabedoria do Criador.
(Charles Colson & Nancy Pearcey; E Agora Como Viveremos?; CPAD; 36)
Huntington predisse um conflito entre as cosmovisões das três mais tradicionais civilizações: o mundo ocidental, o mundo islâmico e o leste confucionista. Mas um de seus ex-alunos, o cientista político James Kurth, discordou dele afirmando que o conflito mais significativo seria na própria civilização ocidental – entre os adeptos do modelo judaico-cristão e aqueles a favor do pós-modernismo e do multiculturalismo.
(Charles Colson & Nancy Pearcey; E Agora Como Viveremos?; CPAD; 37)
Devemos saber não só qual é a nossa cosmovisão e porque acreditamos nela, mas também como defendê-la. Também devemos ter algum entendimento das cosmovisões contrárias e porque as pessoas acreditam nelas. Somente então poderemos defender a verdade de maneira encantadora e persuasiva.
(Charles Colson & Nancy Pearcey; E Agora Como Viveremos?; CPAD; 45)
Os contornos de um sistema de vida cristão se tornarão claros nas quatro secções que se seguem: criação – Deus trouxe o mundo à existência através da sua palavra e criou a humanidade à sua imagem; queda – a condição humana é desfigurada pelo pecado; redenção – Deus em sua graça proveu uma maneira de nos reconciliar consigo mesmo; e restauração – somos chamados a trazer esses princípios a todas as áreas da vida e criar uma nova cultura.
Equipados deste entendimento, podemos mostrar não somente que a cosmovisão cristã oferece as melhores respostas – respostas que concordam com o senso comum e com a mais avançada ciência – mas também que cristãos podem tomar as armas espirituais na grande luta cósmica entre cosmovisões conflitantes.
Ousaríamos acreditar que o Cristianismo pode ainda prevalecer? Devemos acreditar nisso. Como afirmamos no começo, este é um momento histórico de oportunidade, e quando a Igreja é fiel ao seu chamado, isso sempre leva a uma reforma da cultura. Quando a Igreja é verdadeiramente Igreja, uma comunidade vivendo em obediência bíblica e contendendo pela fé em toda área da vida, ela certamente reavivará a cultura em volta ou criará uma nova.
Religião não é reflexo ou produto da cultura, mas justamente o contrário. Como argumentou o grande historiador do século XX, Christopher Dawson, o culto está na raiz da cultura (considerando “culto” em seu sentido básico como um sistema de adoração religiosa). O já falecido filósofo político Russell Kirk concordou: “É a partir da associação em um culto, um corpo de adoradores, que a comunidade humana cresce”.
A ostra oferece uma boa analogia. Ostras fazem suas próprias conchas, de forma que se uma concha é mal formada, o problema não está na concha, mas na ostra. Da mesma forma, quando a cultura se deforma e degenera, não pergunte o que aconteceu de errado com a cultura; pergunte o que deu errado com o culto – o cerne religioso. “Quando a crença no culto tiver sido completamente enfraquecida, a cultura degenerará rapidamente”, escreveu Kirk. “A ordem material repousa na ordem espiritual.”
A esperança para o mundo de hoje é uma ordem espiritual renovada e vibrante, um culto criador de cultura, homens e mulheres de outra estirpe, em disposição de batalha para a grande guerra de princípios contra princípios. Uma batalha que coeça assim: “No princípio…”
(Charles Colson & Nancy Pearcey; E Agora Como Viveremos?; CPAD; 58,59)
Ser um discípulo de Jesus, portanto, não é principalmente sobre como obter o direito a ideias, doutrinas e crenças na mente, a fim de desenvolver o comportamento correto. É uma questão de ser o tipo de pessoa que ama corretamente, que ama a Deus e ao próximo e é orientada para o mundo pela primazia deste amor. Somos feitos para ser tais pessoas pela nossa imersão nas práticas materiais da adoração cristã.

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