Eu sou protestante. Eu acredito no sola scriptura, sola fidei, solus Christus, e o resto. Estou convencido de que Lutero articulou sua visão de justificação de forma sucinta: simul iustus et peccator ("Ao mesmo tempo justo e pecador").
Mas com o nascimento do protestantismo houve necessariamente também uma divisão dentro da igreja ocidental. Por "necessariamente" quero dizer que os protestantes tornaram-se necessários por se separarem de Roma. Jaroslav Pelikan tinha razão quando disse que a Reforma era uma necessidade trágica. Os protestantes sentiram que a verdade era para ser valorizada sobre a unidade, mas o que se seguiu foi devastador. Esta mesma mentalidade começou a infectar todas as igrejas evangélicas pois eles continuaram a se dividir umas das outras. Hoje existem centenas e centenas de denominações protestantes. Não se vê este nível de fratura em qualquer Ortodoxia Oriental ou no catolicismo romano. Nem mesmo chega perto.
"Mas a unidade na mentira não é unidade", alguns vão protestar. Até certo ponto isso é verdade. Se a unidade da Igreja significava que teríamos todos que negar a ressurreição corporal da pessoa teantrópica, então isso seria contra uma unidade essencial da fé cristã. Mas não há nenhum pensador cristão que concorda, aceita e suporta tudo o que seu pastor ensina. No entanto, ele é uma parte daquela igreja. A este respeito, ele tem valorizado a unidade sobre a verdade. Nós todos temos que fazer isso. Se não fizéssemos isso, cada cristão seria a sua própria igreja. A membresia seria muito previsível e muito chata!
Vários estudiosos evangélicos têm notado que o problema com a eclesiologia protestante é que não há eclesiologia protestante. Em muitas denominações e especialmente em igrejas não-denominacionais, não há hierarquia de igrejas responsáveis a uma cabeça central, nenhuma responsabilidade além da congregação local, nenhuma comunhão para além da comunidade local, nenhuma ênfase missional que ganha o apoio de centenas de congregações, e nenhum superior a quem um pastor local deve se submeter à fidelidade doutrinal ou ética.
Três eventos em especial me fizeram refletir sobre minha própria situação eclesiológica e esperar por algo diferente.
Em primeiro lugar, eu passei muito tempo com os gregos ortodoxos. Não importa a que igreja ortodoxa ou mosteiro que eu visitava, eu recebo a mesma mensagem, a mesma liturgia, a mesma sensação de "santidade" em nossa comunhão com o Deus Uno e Trino. A liturgia é precisamente o que incomoda os protestantes já que suas igrejas muitas vezes trabalham muito para tentar silenciar as vozes do passado. "É só eu e minha Bíblia" é o lema de milhões de evangélicos. Eles muitas vezes intencionalmente se esquecem dos últimos dois milénios e a possibilidade de que o Espírito de Deus estava trabalhando na Igreja durante esse tempo. A História da Igreja para todos os evangélicos muitas não começa até que Lutero bateu aquele pergaminho impressionante na porta do Schlosskirche.
No protestantismo, ninguém realmente sabe o que ele ou ela vai experimentar de igreja a igreja. Até mesmo igrejas da mesma denominação são muito divergentes. Alguns têm uma proclamação sólida da Palavra, enquanto outras são superficiais e só tentam atrair pecadores a se juntarem a elas, mesmo sem a menor sugestão de que eles se arrependam. Muitas igrejas protestantes parecem clubes sociais, onde a ofensa do Evangelho tem sido diluída para sentir-se bem com psico-teologia. E o problema só está ficando pior com as mega-igrejas com sua mini-teologia. Isto não deveria acontecer.
Em segundo lugar, um homem a quem fuimentor anos atrás tornou-se um pastor de uma igreja não-denominacional. Recentemente e, tragicamente, ele negou a plena divindade de Cristo, e proclamou que a Igreja tinha se tornado errada desde Nicéia. Ele começou um grupo de hereges que eram muito persuasivos. Os anciãos da igreja não tinha nenhum recurso a qualquer autoridade governamental sobre a igreja local, pois eles eram a autoridade de governo e eles não estavam equipados para lidar com seus ensinamentos heterodoxos. O caso ficou mal para eles e eles me consultaram e outro professor evangélico para obter ajuda. Levou algum tempo antes que eles pudessem mostrar o pastor a porta, e eles ficaram perplexos e perturbados durante o processo. A congregação não tinha certeza de qual caminho era correto. Surgiram dúvidas sobre a pedra angular da ortodoxia: a divindade de Cristo. Esse tipo de câncer poderia ter sido cortado mais rápido e eficazmente, se a igreja estivesse subordinada a uma hierarquia que mantivesse a doutrina verdadeira em suas igrejas. E o dano teria sido menos grave e menos traumático para a igreja.
Em terceiro lugar, um livro de David Dungan chamado A Bíblia de Constantino faz um ponto surpreendente sobre a forma do cânone na igreja antiga. Dungan discute a passagem de Eusébio na História Eclesiástica (6,12), quando este famoso pai da Igreja falou de quatro categorias de candidatos para o cânone literário: homolegoumena, antilegomena, apócrifos e pseudepigrapha. Dungan menciona que, para Eusébio, falar de todos os livros como homolegoumena (os vinte livros que tinham consentimento universal em sua época como canônicos), ele estava falando de uma cadeia ininterrupta de bispos, do século primeiro ao quarto, que afirmaram a autoria e autenticidade de tais livros. O que é significativo é que para a Igreja antiga, a canonicidade estava intrinsecamente ligada à eclesiologia. Foram os Bispos, em vez das congregações, que deram sua opinião sobre as credenciais de um livro. Não apenas quaisquer bispos, mas os principais bispos da Igreja antiga. Dungan passou a dizer que Eusébio deve ter olhado os registros nos anais da Igreja e podia falar assim, apenas com base em tais registros. Se Dungan está certo, então a questão da autoria de alguns livros (principalmente as sete cartas controvertidas de Paulo) está estabelecida. E está resolvido recorrendo a uma estrutura eclesiológica que é diferente do que os protestantes admitem. A ironia é que quando os evangélicos atuais debatem sobre a autenticidade das cartas controvertidas de Paulo, eles ainda estão debatendo com uma mão amarrada nas costas. E isso tem sido muito notado que o elo mais fraco em uma bibliologia evangélica é a canonicidade.
Então, como vamos lidar com essas questões? Certa vez escrevi em um blogpost chamado Parchment & Pen sobre a "A Igreja Ideal". Nele eu disse: "A Igreja ideal não pode existir. E uma grande parte da razão que não pode é porque fizemos uma bagunça terrível das coisas."
Eu não tenho certeza da solução, ou mesmo se há. Mas podemos dar passos em direção a uma solução, mesmo que nunca cheguemos lá neste mundo. Primeiro de tudo, nós protestantes podemos ser mais sensíveis sobre as deficiências de nossa própria eclesiologia ao invés de pensar que temos um canto na verdade. Nós precisamos reconhecer humildemente que os dois outros ramos da cristandade têm feito um trabalho melhor nessa área. Segundo, podemos ser mais sensíveis à necessidade da responsabilidade doutrinal e ética, comunhão além da nossa igreja local, e de ministério com outros cujos fundamentos, mas não necessariamente particulares, não se alinham com os nossos. Terceiro, podemos começar a ouvir novamente a voz do Espírito falando através dos Pais da Igreja e abraçarmos algumas das liturgia que tem sido usadapor séculos. Obviamente, tudo deve estar sujeito à autoridade bíblica, mas não nos atrevemos a negligenciar os últimos vinte séculos, a menos que nós pensamos que o Espírito tem dormido todo esse tempo.
Daniel B. Wallace é um eminente professor de Estudos do Novo Testamento no Dallas Theological Seminary
Your Sunday Sermon Notes – 24th & Last Sunday after Pentecost (N.O. Christ
The King) 2024
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Too many people today are without good, strong preaching, to the detriment
of all. Share the good stuff. Was there a GOOD point made in the sermon you
hear...
Há uma hora
2 comentários:
Eu gostaria muito que todos meus conhecidos protestantes lessem esse artigo. Vou sugerir pelo menos um, que estuda teologia numa faculdade batista.
Mantenho meu posicionamento de que a unicidade dos cristãos deve ser tentada, com o impavido convite para o retorno dos protestantes à Igreja primeira.
Eu admiro muito o Daniel Wallace, grande erudito. Seria bom que muitos lessem esse artigo. Espero que espalhem e divulguem.
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