Onde está a verdadeira cruz de Cristo?

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Giuliano Bercelos

Jesus nos ensina o caminho para o Reino: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me” [Lc 9,23]. Seguir a Cristo nesta terra nos credencia a segui-lo para além desta terra, na eternidade.

A cruz de Cristo é feita apenas com dois pedaços de madeira rústicos. Não é de madeira nobre, como mogno ou imbuia, e muito menos tem entalhes ornamentais ou tem suas rebarbas retiradas ou foi lixada para ser suave ao toque.

Na verdade, tocar na cruz de Cristo é uma experiência estranha e que não tem prazer no ato em si. Carregá-la então, para a mente humana não regenerada pelo amor de Cristo é carregar um peso morto, algo que beira o masoquismo.

Agora, para os filhos de Deus, remidos pelo sangue de Cristo que foi derramado exatamente nesta cruz áspera, escandalosa e sem beleza alguma, deveria trazer gozo e alegria tomar a cruz que nos é proposta, não pela cruz em si, mas pelo servir a Cristo, pelo seguir sua instrução e pela compreensão espiritual da cruz como o caminho para o Reino.

É triste percebermos que há muitas outras cruzes no arraial cristão e que, tal como um celular Xing ling quer imitar um iPhone, estas falsas cruzes tentam imitar a cruz que Cristo nos propõe.

E há cruzes para todos os gostos, tipos e bolsos.

Uma é diminuída em seu tamanho, para ser mais leve e fácil de carregar. Esta cruz mutila a Bíblia, eliminando dela todo o compromisso que a vida cristã requer.

Outra é aumentada para parecer mais pesada do que realmente é tendo em vista que o que carrega tal cruz julga-se merecedor da salvação por carregar mais peso que os outros e, pior ainda, condena os que não têm uma cruz tão grande nas costas. Não é difícil de reconhecer o carregador deste tipo de cruz, pois está sempre fazendo sacrifícios tolos para buscar aprovação em Deus para seu coração endurecido. Busca trilhar o caminho maldito da auto-salvação e, em algum ponto da estrada esbarra no muro da frustração.

Há ainda a cruz que só tem aparência: tem cor de madeira, tem cheiro de madeira, parece rústica e tem até sangue escorrendo por ela. Parece cruz, mas é falsa, é cinematográfica, é fake, cruz de isopor que tenta enganar os homens, mas não é capaz de enganar a Deus. Qualquer vento de doutrina vai quebrá-la e espalhar seus pedaços, revelando seu interior.

Creio não conseguir enumerar todos os tipos de pseudocruzes no meio cristão, mas não posso deixar de citar a cruz da aceitação. Este tipo de cruz é lixada e antes teve todas as rebarbas removidas, sendo bem suave ao toque. Geralmente é envernizada ou pintada com alguma cor da moda. Esta cruz precisa ser assim para que quem a carrega seja aceito em seu meio, seja na escola, no trabalho, com amigos ou família. Em seu interior até tem a mesma qualidade de madeira da cruz de Cristo, mas recebeu muitos retoques e embelezamento externo para facilitar sua aceitação. Quem carrega tal cruz retira as rebarbas da condenação do pecado para que possa continuar com sua vida da mesma forma de outrora, mas com uma aparência gospel, lixa-a para aliviar a aspereza do negar-se a si mesmo e a pinta ou enverniza para dar uma aparência agradável para que outros até topem carregar uma cruz bonitinha assim, imaginando com isto cumprir o verdadeiro IDE.

A cruz de Cristo é uma experiência radical, que nos muda radicalmente. Só a verdadeira cruz tem o poder de nos conduzir à essência da Verdade, que é Cristo Jesus.

Se nos dedicarmos a qualquer outra cruz que não a autêntica corremos o risco de, em vez de sermos salvos pelo sacrifício de Jesus na cruz, sermos nós mesmos crucificados nesta cruz fajuta, que nada tem a ver com a cruz de Cristo.


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