E se eu tiver medo do sofrimento?

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Quando pensamos no sofrimento, as imagens que vêm à mente muitas vezes podem ser as mais extremas: camas hospitalares, doenças terminais, ou talvez até mesmo tortura e martírio. Alguns podem até pensar nas penitências corporais mais austeras dos santos, tais como auto-flagelação, dormir em vidro quebrado, ou jejuar tendo só a Sagrada Eucaristia como alimento. Mas o sofrimento de que os santos falam de não trata de dessas formas externas que, aos nossos sentidos, parecem mais extremas. Na verdade, esse sofrimento tem pouco mérito se for feito com um desejo de auto-vontade, para honra própria, orgulho, atenção, carinho ou qualquer outra afeição desordenada. Pelo contrário, o que importa mais do que a forma externa, é a forma como reagimos interiormente a tudo o que Nosso Senhor nos apresenta a cada dia; a partir de algo tão simples como uma dor de dente, uma doença terminal, todos podem trabalhar para obter a graça da conversão. A chave é fazer um esforço ativo para transformar nossas provações e inconvenientes diários num maná vivo para as almas; principalmente por fazer um ato contínuo de auto-negação em todas as coisas, com nenhum outro propósito senão o amor a Deus e ao desejo de agradá-Lo, seja negando nosso gosto por uma comida, um impulso de evitar uma tentação à desobediência, um anexo a nossa opinião, um desejo de conforto, a preferência por uma determinada criatura ou conversa mundana, enfim, qualquer apego a tudo o que não seja dirigido a Deus. Tais atos, se forem feitos com perseverança por amor a Deus e ao próximo, exigem uma força tão grande heróica, que podem obter mais mérito do que a do martírio. Como sabemos que isso é verdade? Porque o martírio físico só mata o corpo e, portanto, é de uma natureza inferior ao martírio da alma, que é de valor infinitamente maior. Como Nossa Senhora disse a Venerável Maria de Agreda
"Pois eu garanto-te, minha querida, que aqueles que são perfeitos e pontuais em suas obrigações religiosas podem se igualar e até superar os mártires no mérito."
Este mesmo sentimento é ecoado por Santa Teresinha
"Existem coisas simples que agradam o Senhor mais do que a conquista do mundo: um sorriso ou uma palavra gentil, por exemplo, quando me sinto inclinado a dizer nada, ou pareço aborrecida."
Se alguém ainda tem medo do sofrimento, pode ser reconfortante saber que você não está sozinho, pois mesmo os santos tiveram que crescer em seu amor:
Diário de Santa Faustina
"No início da minha vida religiosa, os sofrimentos e as adversidades assustaram-se e me desanimaram. Orei continuamente, pedindo a Jesus que me fortalecesse e me concedesse o poder do Seu Espírito Santo para que eu pudesse realizar a Sua santa vontade em todas as coisas, porque desde o início eu tinha consciência da minha fraqueza. " [P. 56] Mais tarde, ela escreve: "Desde o momento em que eu aprendi a amar o sofrimento, deixou de ser um sofrimento para mim  e agora o sofrimento é o alimento da minha alma.".
Assim, os santos nos fazem lembrar que não há razão para temer o sofrimento, pois quando Deus permite o sofrimento por amor a Ele, Ele ajuda a alma, infundindo nela a graça necessária para suportar a aflição com fidelidade e alegria. Se a alma não pode lidar com o sofrimento, em seguida, Nosso Senhor não vai forçar o sofrimento em cima dela. Nosso Deus é um Deus gentil, e não vai avançar se não permitirmos que o faça, pois Ele honra o nosso livre arbítrio. Como os Apóstolos se alegraram em seus sofrimentos por amor do Reino (cf. Atos 05,41; também Col. 1,24; 1 Coríntios. 1,23; Rom. 8,17, Mat. 16,24; Jo. 12,24), assim também nós devemos, pois não há nada que dá a Deus maior glória que esta prova do nosso amor.
Diário de Santa Faustina
"Uma vez, quando eu estava na cozinha com a irmã N., ela ficou um pouco chateada comigo e, como castigo, mandou-me sentar na mesa enquanto continuava a trabalhar duro limpando e esfregando. E enquanto eu estava sentada lá, as irmãs vieram e ficaram espantadas ao encontrar-me sentada na mesa. Uma delas disse que eu era uma preguiçosa e uma outra "que excêntrica!" Na época eu era uma postulante. Outras disseram: "que tipo de irmã ela vai ser?" Ainda assim, eu não podia descer porque a irmã tinha me mandado ficar sentada, em virtude da obediência, até que ela me dissesse para descer. Verdadeiramente, só Deus sabe quantos atos de abnegação isto tomou. Eu pensei que ia morrer de vergonha. Muitas vezes Deus permitia essas coisas por causa da minha formação interior, mas ele compensou-me essa humilhação com um grande consolo. Durante a bênção eu o vi em grande beleza. Jesus olhou para mim gentilmente e disse: 'minha filha, não tenhas medo dos sofrimentos. Eu estou com você".
Fonte: http://www.religious-vocation.com/redemptive_suffering.html
Tradução: Emerson de Oliveira

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