Dois exemplos de Sentir com a Igreja

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Todo o cristão que se reconhece membro da Igreja e a ama como sua família espiritual, não pode deixar de sentir e de se identifica-se com ela. Faz seu tudo o que nela acontece. Nisso se reconhecem os seus verdadeiros filhos. São Paulo é exemplo eloquente de quem assim viveu, não apenas em relação às comunidades por si fundadas mas também às outras. Como ele, outros assim fizeram. Cito dois exemplos desse sentir pela Igreja: Chiara Lubich e o teólogo Henri de Lubac.

A fundadora do Movimento dos Focolares e grande apóstola da unidade escreve:

“O rosto da Igreja, aqui resplandecente de luz, ali ofuscado por sombras, deve reflectir-se em cada cristão, em cada grupo de cristãos. Isto significa que devemos sentir como nossas, não só todas as alegrias da Igreja, as suas esperanças, os seus novos florescimentos, as suas conquistas, mas sobretudo sentir como nossas as suas dores: a da não plena comunhão entre as Igrejas, a dor aflitiva de situações dolorosas, de contestações negativas, a ameaça de acabar com tesouros seculares, a angústia por tantos que renegam ou não aceitam a mensagem que Deus anuncia ao mundo para a sua salvação. (…) Pensei que todos os verdadeiros cristãos deveriam ser uns estigmatizados, não no sentido extraordinário e externo, mas espiritual. Compreendi que os estigmas do cristão dos nossos dias são, portanto, as misteriosas, mas reais, chagas da Igreja de hoje. Se a caridade de Cristo não chega a fazer-nos experimentar em nós a dor dessas chagas, não somos como Deus nos quer hoje”.


Por seu lado, o grande teólogo precursor e colaborador do Concílio Vaticano II declara: O homem que ama a Igreja “é atingido por tudo o que paralisa, entorpece, fere o interior do corpo. Sofre pelos males internos da Igreja. Queria-a, em todos os seus membros, mais pura e mais unida, mais atenta às solicitações das pessoas, mais activa no seu testemunho, mais ardente na sua sede de justiça, mais espiritual em tudo, mais distante de qualquer concessão ao mundo e ao seu engano.

Sem nutrir um sonho utópico e sem deixar de acusar-se a si próprio em primeiro lugar, não se resigna a que os discípulos de Cristo permaneçam à margem das grandes correntes. Apenas vê o bem, alegra-se com ele, empenha-se em mostrá-lo, sem, no entanto, fechar os olhos aos defeitos e misérias que alguns quereriam negar, enquanto que outros se escandalizam. Sabe que muitas reformas são necessárias se se quer evitar as novidades nefastas e sabe que um impulso de reforma é natural na Igreja. Antes de quebrar qualquer impulso, procurará sempre corrigir-lhe a orientação”.

O que se diz da Igreja vale também em relação a cada comunidade, à paróquia e à diocese. Cada cristão deverá sentir com a sua comunidade e participar das suas esperanças e inquietações, das suas virtudes e dos seus fracassos. E por ela trabalhar como lhe é possível. Participa nas suas festas e nas suas assembleias. Programa a sua vida pessoal e familiar sem deixar de ter em conta também o ritmo e os acontecimentos da sua paróquia. Por vezes, será capaz de renunciar a programas próprios para estar com a sua comunidade cristã em momentos significativos.

Este sentir com a Igreja é também estar aberto à comunhão com as outras comunidades, a acolhê-las, visitá-las ou a envolver-se em projectos comuns. Ninguém pode permanecer fechado sobre si mesmo ou sobre a sua comunidade. É preciso ter a alma aberta à dimensão de toda a família católica e caminhar de mãos dadas e coração solidário com todos os irmãos, onde quer que eles estejam. São assim os melhores filhos da Igreja: vivem e morrem com ela, por ela e para ela, sempre em comunhão.

Padre Jorge Guarda

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