O que está acontecendo às igrejas?

sábado, 26 de março de 2011

Há muitos aspectos culturais que os latino-americanos, desde o México no norte ao Chile no sul, têm em comum. Os mais antigos deles ainda se lembram de quando havia basicamente uma religião: o catolicismo romano. Isso aconteceu no século 16, quando conquistadores espanhóis chegaram. No Brasil, o domínio colonial estava nas mãos de Portugal, país católico romano.
Nos anos 60, porém, alguns padres católicos notaram que por defenderem a elite dominante perdiam o apoio da população. Começaram a fazer campanhas a favor dos pobres, em especial promovendo o que ficou conhecido como teologia da libertação. Esse movimento começou na América Latina em sinal de protesto contra a pobreza vivida por tantos católicos.
Apesar dos empenhos do clero em movimentos políticos populistas, milhões têm abandonado a religião católica e mudado para outras denominações. Religiões cujos ofícios incluem bater palmas, cantar hinos com fervor, ou que têm um ambiente parecido com um concerto de rock aumentaram em tamanho e em número. “O movimento evangélico na América Latina divide-se em inúmeras igrejas”, diz Duncan Green em seu livro Faces of Latin America (Aspectos da América Latina). “Frequentemente, essas igrejas giram em torno de um único pastor. Em geral, quando uma delas cresce, divide-se em pequenas novas igrejas.”

A Europa vira as costas às igrejas
Por mais de 1.600 anos, quase toda a Europa foi dominada por governos que se diziam cristãos. Será que a religião na Europa está prosperando neste século 21? Em 2002, o sociólogo Steve Bruce, em seu livro God is Dead—Secularization in the West (Deus Está Morto — Secularização no Ocidente), comentou o seguinte sobre a Grã-Bretanha: “No século 19, praticamente todos os casamentos eram realizados com cerimônia religiosa.” No entanto, por volta de 1971, apenas 60% dos casamentos ingleses eram assim. Em 2000, esse número caiu para meros 31%.
Mencionando essa tendência, o correspondente de religião para o jornal londrino The Daily Telegraph escreveu: “Todas as principais denominações, desde a Igreja Anglicana e a Igreja Católica, até a Igreja Metodista e a Igreja Reformada Unida, estão passando por um longo período de declínio.” Sobre um relatório ele disse: “É muito provável que até 2040 as igrejas da Grã-Bretanha estejam quase extintas, com apenas 2% da população assistindo aos ofícios de domingo.” O mesmo tem sido dito a respeito da religião na Holanda.
“Nas últimas décadas, nosso país parece ter ficado definitivamente mais separado da religião”, observou um relatório do Escritório Holandês de Planejamento Social e Cultural. “Estima-se que por volta de 2020, 72% da população não estará filiada a religião nenhuma.” Uma fonte noticiosa da Alemanha diz: “Um número cada vez maior de alemães procura na feitiçaria e no ocultismo o ânimo que antes encontravam na igreja, no trabalho e na família. . . . Por todo o país, há igrejas que acabam fechando por falta de adeptos.”
Na Europa, os que ainda vão à igreja não o fazem para saber o que Deus requer deles. Um relatório da Itália diz: “Os italianos ajustam sua religião ao seu modo de vida.” Um sociólogo desse mesmo país afirma: “Daquilo que o papa diz, aproveitamos o que nos convém.” O mesmo pode ser dito dos católicos na Espanha, onde a religiosidade foi substituída pelo consumismo e pela procura de um paraíso econômico — aqui e agora.
Essas tendências contrastam em muito com o cristianismo que Cristo e seus seguidores ensinaram e praticaram. Jesus não apresentou uma religião estilo mesa de bufê, em que a pessoa escolhe o que gosta e rejeita o que não gosta. Ele declarou: “Se alguém quer vir após mim, repudie-se a si mesmo e apanhe a sua cruz, dia após dia, e siga-me continuamente.” Jesus ensinou às pessoas que o modo de vida cristão envolvia esforço e sacrifícios pessoais. — Lucas 9,23.

O marketing das religiões na América do Norte
Ao contrário do que acontece no Canadá, onde, segundo analistas, as pessoas têm uma tendência para serem cépticas quanto à religião, nos Estados Unidos as pessoas levam a sério os assuntos da fé. De acordo com algumas das principais agências de pesquisa de opinião, pelo menos 40% das pessoas que entrevistaram afirmam que vão à igreja toda semana, embora os números reais indiquem que, na verdade, esse percentual esteja mais perto dos 20%. Mais de 60% diz acreditar que a Bíblia é a Palavra de Deus. No entanto, seu entusiasmo por uma religião pode durar pouco. Muitos que frequentam igrejas nos Estados Unidos mudam facilmente de religião. Se um pregador perder a popularidade ou o carisma, logo ele pode muito bem perder sua denominação, o que muitas vezes significa também perder um lucro significativo.
Algumas igrejas estudam técnicas comerciais para aprender a “comercializar” da melhor maneira os seus ofícios religiosos. Há congregações que pagam milhares de dólares a firmas que prestam consultoria a igrejas. De acordo com uma reportagem sobre essas firmas, um pastor satisfeito com o serviço disse: “Foi um ótimo investimento.” Megaigrejas com milhares de adeptos são tão bem-sucedidas financeiramente que chamam a atenção de periódicos especializados em negócios tais como The Wall Street Journal e The Economist. Eles relatam que é comum essas megaigrejas disponibilizarem “todo tipo de serviços para o corpo e para a alma”. As instalações das igrejas podem incluir restaurantes, cafés, salões de beleza, saunas e centros esportivos. As atrações incluem teatro, visitas de celebridades e música contemporânea. Mas o que ensinam os pregadores?
Não admira que o “evangelho da prosperidade” seja um tema popular. Os religiosos aprendem que se contribuírem generosamente para a sua igreja ficarão ricos e saudáveis. Quanto à moral, Deus muitas vezes é apresentado como tolerante. Um sociólogo diz: “As igrejas americanas cuidam do bem-estar das pessoas em vez de julgá-las.” Religiões populares costumam usar sugestões de auto-ajuda para auxiliar a pessoa a ser bem-sucedida. Cada vez mais pessoas se sentem bem em igrejas que não pertencem a uma denominação específica, cujas doutrinas, consideradas motivo de divisão, quase nunca são mencionadas. No entanto, fala-se de modo aberto e específico sobre política, o que ultimamente tem dado origem a alguns episódios embaraçosos para alguns clérigos.
Será que está havendo um reavivamento religioso na América do Norte? Em 2005, a revista Newsweek fez uma reportagem sobre a popularidade de “ofícios religiosos com gritos, desmaios, pés batendo no chão” e outras práticas religiosas. Mas ela destacou: “Seja o que for, não se trata de um grande aumento no número de pessoas indo à igreja.” Quando se pergunta às pessoas qual é a sua religião, a resposta mais comum é: “Nenhuma”. Se algumas congregações aumentam, isso acontece porque outras estão diminuindo. A evidência mostra que as pessoas estão abandonando aos milhares religiões convencionais, com suas cerimônias, música de órgão e clérigos vestidos a rigor.
Na nossa breve consideração, vimos que as igrejas estão sofrendo uma fragmentação na América Latina, perdendo adeptos na Europa e mantendo o apoio nos Estados Unidos por oferecer entretenimento e emoção. É claro que há muitas exceções a essas tendências, mas o quadro geral é o de igrejas lutando para manter a popularidade. Será que isso significa que o cristianismo está em declínio?

‘A RELIGIÃO NO SUPERMERCADO’
  O diretor do Serviço Nacional de Vocação da Igreja Católica Francesa foi citado como tendo dito: “Vemos que a religião passou a ser produto de supermercado. As pessoas fazem uso do que estiver à disposição e quando não encontram uma instituição que esteja de acordo com suas preferências, vão para outro lugar.” Num estudo sobre religião européia, a professora Grace Davie da Universidade de Exeter, na Grã-Bretanha, disse: “As pessoas simplesmente escolhem e misturam o que encontram nas várias religiões disponíveis. A religião, como tantas outras coisas, entrou para o mundo das opções, estilos de vida e preferências.”

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