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Enquanto a Quaresma é um tempo de jejum, abstinência, esmola e oração para mais de um bilhão de pessoas no mundo, essas práticas não são sempre analisadas e seu valor total é facilmente perdido. Isto é especialmente verdadeiro para o jejum e a abstinência, visto como algo que fazemos para Deus, mas libertador para nós. Outro ponto de vista desses sacrifícios é que nós trocamos algo bom para um bem maior, e ganhamos a liberdade através do esforço. Na verdade, o jejum e a abstinência podem nos ajudar a encontrar a liberdade material e espiritual.
Isaías, escrito há mais de 2600 anos, disse que o jejum era mais do que dar a comida; Deus deseja ver-nos livres de nossas amarras, doemos nossa comida, abriguemos os oprimidos e desabrigados, vistamos os nus e vivamos nossas obrigações para com os outros (cf. Is. 58,6-7). Estes atos enriquecem a vida de outras pessoas e melhoram a nossa vida, porque todos nós somos parte da mesma raça humana. Desistir ou reduzir os prazeres materiais, como alimentação e entretenimento pode resultar em maior liberdade e uma vida mais rica, mostrando-nos o que não precisamos. Thomas Merton se aplica a definição zen de que "quando estamos com fome nós comemos, quando estamos cansados, dormimos" para a vida moderna no sentido inverso: "Comemos mesmo quando não estamos com fome". Nossa voracidade consome plantas, animais, terra, árvores e a liberdade de outras pessoas em uma taxa comparável apenas pelo lixo que descartamos. Limitar o uso de coisas boas é sermos libertados de nossos próprios apetites, e assim o convite a jejuar é um convite à liberdade.
Estamos fisicamente dependentes a determinados fundamentos, tais como alimentos e água, por isso pode parecer uma ironia cruel que não podemos ser totalmente livres de todas as necessidades. Mas a Quaresma é uma época cristã, e Cristo não veio para nos libertar da escravidão física (ainda), mas da escravidão do pecado. Os cristãos acreditam em uma transformação física no final dos tempos, mas o trabalho de libertação espiritual já começou, e temos apenas de nos juntarmos à Resistência. Como seres espirituais, o nosso desejo de consumo exagerado não faz sentido. Devastar e sujar nosso mundo (pessoal e globalmente) é negar a nossa crença de que a vida espiritual é mais duradoura e de maior valor. Quanto mais imergirmos no mundo material, mais ela obscurece o espiritual e mais nos esquecemos quem somos: feitos à "imagem e semelhança" de Deus. Ao mesmo tempo, o uso judicioso dos nossos recursos pessoais e naturais pode ser uma expressão dessa identidade, tal como um artista que usa seu senso de proporção e moderação em comunicar significado na escultura, pintura, dança ou música.
Somos aconselhados por Isaías (e muitos outros, em muitas religiões) a nos abstermos da injustiça e do pecado, e este é um chamado para sermos livres espiritualmente. É tão fácil cair em padrões errados de pensamento: o racismo, egoísmo, pessimismo, raiva ou orgulho. O jejum disso é mais difícil, mas nessas áreas, temos o maior potencial para a vitória nesta vida, pois a liberação total é possível. Justiça, magnanimidade, alegria, bondade, humildade e amor são dons de Deus para nós, mas nós temos que ter a vontade de tê-los, e isso não pode ser feito se estivermos cheios de ódio e orgulho.
Se parece que os nossos sacrifícios na Quaresma são realmente para o nosso benefício, e não realmente um dom de Deus, que bom. Deus conhece, ama, doa, liberta e transforma. Ele não exige nada de nós, mas fornece tudo, inclusive a própria vida. Somos feitos à imagem de Deus, segundo as Escrituras, e na redução de nossos desejos e necessidades com a ajuda da graça, tornamo-nos mais como nosso Criador.
Fonte: http://whitestonejournal.com/lent2.html
Tradução: Emerson de Oliveira
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