SERÁ QUE OS EUROPEUS NUNCA VÃO APRENDER? “Como mensageiro do Evangelho que Pedro e São Tiago marcaram com o proprio sangue, desejo voltar meu olhar para a Europa…”

domingo, 22 de maio de 2011


Desde aqui, como mensageiro do Evangelho que Pedro e São Tiago marcaram com o proprio sangue, desejo voltar meu olhar para a Europa que peregrinou a Compostela. Quais são suas grandes necessidades, temores e esperanças? Qual é o contributo específico e fundamental da Igreja para esta Europa, que percorreu no último meio século um caminho para novas configurações e projetos? Seu trabalho se centra em uma realidade tão simples e decisiva como esta: que Deus existe e que é Ele quem nos têm dado a vida. Somente Ele é absoluto, amor fiel e imutável, meta infinita que transparece através de todos os bens, verdades e belezas admiráveis deste mundo; admiráveis, porém insuficientes para o coração do homem. Bem compreendeu isto Santa Teresa de Jesus quando escreveu: “Só Deus basta!”
É uma tragédia que na Europa, sobretudo no século XIX, se afirmasse e divulgasse a convicção de que Deus é o antagonista do homem e o inimigo de sua liberdade. Com isto se queria colocar na sombra a verdadeira fé bíblica em Deus, que enviou ao mundo o seu Filho, Jesus Cristo, a fim de que ninguém pereça, mas que todos tenham a vida eterna (cf. Jo 3,16).
O autor sagrado afirma diante de um paganismo para o qual Deus está com inveja do homem ou o despreza: “Como Deus teria criado todas as coisas se não as tivesse amado, Ele que, em sua infinita plenitude, não precisa de nada?” (cf. Sab 11,24-26). Como teria se revelado aos homens, se não queria protegê-los? Deus é a origem de nosso ser, fundamento e ápice de nossa liberdade. Não seu oponente.
Como o homem mortal pode criar-se a si mesmo e como o homem pecador vai se reconcilar consigo mesmo?  Como é possível que se tenha feito silêncio público sobre esta realidade primeira e essencial da vida humana? Como o que é mais determinante nela pode ser trancada na mera intimidade ou colocados na penumbra? Nós homens não podemos viver às escuras, sem ver a luz do sol. E então, como é possível que se negue a Deus, sol das inteligências, força das vontades e imã de nossos corações, o direito de propor essa luz que dissipa toda treva?
Por isso, é necessário que Deus volte a ressoar alegremente sobre os céus da Europa; que essa palavra santa não se pronuncie jamais em vão; que não a pervertam fazendo servir aos fins que não lhe são próprios. É mistério que seja pronunciado santamente. É necessário que a percebamos desse modo, na vida de cada dia, no silêncio do trabalho, no amor fraterno e nas dificuldades que anos trazem consigo.
A Europa deve abrir-se a Deus, sair ao seu encontro sem medo, trabalhar com sua graça por aquela dignidade do homem que as melhores tradições descobriram: Além da bíblica, fundamental nessa ótica, também as de época clássica, medieval e moderna, das quais nasceram as grandes criações filosóficas e literárias, culturais e sociais da Europa.
Esse Deus e esse homem são aqueles que se manifestaram concreta e historicamente em Cristo. A esse Cristo que podemos encontrar nos caminhos que conduzem a Compostela, pois ainda existe uma cruz que acolhe e orienta nas encruzilhadas. Essa cruz, supremo sinal do amor levado até o extremo e, por isso, dom e perdão ao mesmo tempo, deve ser nossa estrela guia na noite do tempo.
Cruz e amor, cruz e luz tem sido sinônimos em nossa história, porque Cristo se deixou cravar nela para nos dar o testemunho supremo do seu amor, para nos convidar ao perdão e a reconciliação, para nos ensinar a vencer o mal com o bem. Não deixe de aprender as lições desse Cristo, das encruzilhadas dos caminhos e da vida, Nele Deus vem ao nosso encontro como amigo, Pai e guia. “Óh Cruz bendita, brilha sempre nas terras da Europa!”
Deixe-me que proclame daqui a glória do homem, que percebe ameaças à sua dignidade com a expoliação de seus valores e riquezas originários, com a marginalização e morte infligidas aos mais fracos e pobres. Não se pode cultuar a Deus, sem velar pelo homem seu Filho e não se serve ao homem sem perguntar-se por quem é seu pai e responder a pergunta por si mesmo.
A Europa das ciências e das tecnologias, a Europa da civilização e da cultura, tem que ser a Europa aberta a transcedência e a fraternidade com os outros continentes, ao Deus vivo e verdadeiro a partir do homem vivo e verdadeiro. Isto é o que a Igreja deseja trazer à Europa: velar por Deus e velar pelo homem, a partir da compreensão que Jesus Cristo nos oferece de ambos.

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