Alguns ateus e outros alegam que Jesus foi "imoral" por ter permitido que demônios se apoderassem de porcos e se lançassem ao mar. Como responder a isso?
Não se pode atribuir a Jesus nenhuma falha por ter deixado que os demônios entrassem nos porcos, especialmente visto que certos fatores não declarados podiam muito bem estar envolvidos, tais como serem judeus os donos dos porcos, sendo assim culpados de desrespeito à Lei. Não se exigia, naturalmente, que Jesus exercesse presciência quanto ao que os demônios fariam, uma vez entrassem nos animais impuros. E os demônios talvez quisessem apossar-se dos porcos a fim de derivar disso algum prazer sadístico desnatural. Também, poder-se-ia razoavelmente argüir que um homem vale mais do que uma vara de porcos. (Mt 12,12) Ademais, todos os animais na realidade pertencem a Deus, em razão de sua qualidade de Criador, de modo que Jesus, como representante de Deus, tinha todo o direito de permitir que os demônios se apoderassem da vara de porcos. (Sal 50,10; Jo 7,29) Entrarem os demônios nos porcos demonstrava vigorosamente que tinham deveras sido expulsos dos homens, tornando além disso bem evidente aos observadores o dano que advinha às criaturas carnais que se tornavam possessas de demônios. Demonstrava para tais observadores humanos tanto o poder de Jesus sobre os demônios como o poder demoníaco sobre criaturas carnais. Tudo isto pode ter-se enquadrado no propósito de Jesus e talvez explique por que Jesus permitiu que os espíritos impuros entrassem nos porcos.
Muitos consideraram um tanto estranho e desumano que Jesus destruir assim uma piara de animais. Mas é caso seguro que Ele não destruiu deliberadamente os porcos. Devemos buscar visualizar o que aconteceu.
Os homens gritavam em alta voz (Mar. 5:7; Lucas 8:28). Devemos recordar que esses dois homens acreditavam firmemente que estavam possuídos por demônios. Uma das crenças ortodoxas do judaísmo era que com a vinda do Messias todos os demônios seriam aniquilados e destruídos. É por isso que os dois homens perguntam a Jesus por que tinha vindo a torturá-los antes de que fosse sua hora. Estes homens estavam tão convencidos de que os demônios habitavam em seus corpos, que nada teria podido "curá-los" a menos que vissem com seus próprios olhos como os demônios saíam deles e eram destruídos. Devia ocorrer algo que fosse para eles uma prova irrebatível de sua liberação. É
provável que seus gritos em alta voz tenham espantado os porcos, que se lançaram ao lago. A água era fatal para os demônios. Jesus aproveitou a oportunidade. "Olhem", disse-lhes, "seus demônios saíram de vocês e se colocaram nesses porcos, que agora se precipitam no lago, e ficam destruídos para sempre jamais."
Jesus sabia que não se poderia convencer a esses pobres miseráveis de que estavam curados sem que eles o vissem com seus próprios olhos. Se as coisas ocorreram deste modo, não se pode dizer que Jesus tenha destruído deliberadamente os porcos. Valeu-se dessa imagem como um recurso útil para convencer a esses dois pobres homens da realidade de sua cura.
Mas embora Jesus tivesse ocasionado deliberadamente a destruição dos porcos, não se pode culpá-lo de ter feito algo improcedente. É possível chegar a ser excessivamente melindroso.
T. R. Glover diz que muitas pessoas acreditam que são muito piedosas, quando em realidade o que fazem é ser melindrosas. Evidentemente não se pode comparar o valor de um montão de porcos com o de dois seres humanos, cujas almas são imortais. Bem poucos entre nós se negarão a comer presunto, ou costelas de porco. Nossa simpatia para com os porcos não nos impede de comer isso. Podemos então nos queixar de que Jesus tenha devolvido a saúde a dois seres humanos à custa de uma vara de porcos? Ninguém diria que esta ação significa estimular a crueldade para com os animais. Apenas significa que devemos manter certa proporção em nossa atitude diante da vida.
A suprema tragédia desta história está na forma como que termina. Os que cuidavam dos porcos correram à cidade e contaram o ocorrido aos habitantes desta. O resultado foi que os gadarenos acudiram a Jesus e lhe pediram que abandonasse essa região. Aqui vemos o egoísmo humano em sua expressão concreta. Não se importavam com o fato de que dois semelhantes tivessem recuperado a razão. Tudo o que lhes importava era que tinham perdido seus porcos.
Com muita freqüência encontramos quem opina: "Não me importa o resto do mundo enquanto conserve meus lucros e meus bens e minha comodidade." Possivelmente nos surpreenda a dureza do coração daqueles gadarenos, mas é necessário que mantenhamos uma atitude vigilante para não cairmos também na atitude dos muitos que se negam a ajudar a outros quando a ajuda implica renunciar a algum privilégio.
Daily Rome Shot 1180
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