Respostas a argumentos ateus: "se Deus é onisciente, como fica o livre-arbítrio?"

quinta-feira, 3 de novembro de 2011



Olá, a doutrina cristã afirma que Deus é onisciente (1 João 3,20), e os seres humanos têm livre-arbítrio (Deuteronômio 30,19 é o meu exemplo favorito). No entanto, em meus debates apologéticos, tenho visto os céticos levantarem uma objeção a esses pontos várias vezes. A lógica básica por trás de seus argumentos é o seguinte:
  1. Um ser com livre-arbítrio, dado duas opções A e B, pode escolher livremente entre A e B.
  2. Deus é onisciente (tudo sabe).
  3. Deus sabe que eu escolherei A.
  4. Deus não pode estar errado, já que um ser onisciente não pode ter conhecimento falso.
  5. A partir de 3 e 4, eu vou escolher A e não posso escolher B.
  6. A partir de 1 e 5, a onisciência e livre-arbítrio não podem coexistir.
Tenho lido muitos contra-argumentos a partir de sites apologéticos, mas eram demasiado técnicos (eu não conseguia entendê-los), ou não satisfatório. Assim, eu queria saber qual seria a sua resposta a esta questão?
Obrigado,
Justin

Oi Justin,
Obrigado por escrever. Esta é uma ótima pergunta, pois mostra como até mesmo aqueles que apelam para a lógica podem ter preconceitos que os cegam. Vamos examinar esse argumento e ver se ele segue logicamente.
As premissas 1 e 2 em seu esboço acima são as principais premissas do argumento e estão corretas. A cosmovisão cristã afirma que todo ser humano é um agente moral livre e é capaz de fazer escolhas simplesmente por exercer sua vontade, não sob compulsão ou por causa do instinto. Além disso, é uma doutrina do cristianismo que Deus é onisciente. A Bíblia diz que Deus sabe "o fim desde o começo" (Isaías 46,10). Para a onisciência para ser verdadeiramente entendida deve ser o  conhecimento correto, então a premissa de número 4 também está correta.
No entanto, o número 5 é onde a lógica vacila. Aqueles que argumentam dessa forma cometem o erro de pensar que, como Deus possui conhecimento sobre determinado assunto, então ele o influenciou. Isto não é correto. Só porque Deus pode prever qual a escolha que você vai fazer, isso não significa que você não pode ainda escolher livremente a outra opção.
Deixe-me dar um exemplo. Eu tenho um filho de cinco anos de idade. Se eu fosse deixar um biscoito de chocolate na mesa cerca de uma hora antes da hora do jantar e meu filho estava a andar pela sala e o visse, eu sei que ele iria pegar o bolinho e comê-lo. Eu não o forço a tomar essa decisão. Na verdade, eu nem sequer tenho que estar na sala. Eu acho que conheço o meu filho bem o suficiente para lhe dizer que se eu voltar para a cozinha o biscoito vai ser comido. Seu ato foi feito completamente livre de minha influência, mas eu sabia quais seriam suas ações.
Ao examinar o argumento, a suposição é feita na premissa 3 que como Deus sabe que eu vou escolher A de alguma forma me nega a escolha de B. Essa é a premissa de que o cristianismo rejeita. A Onisciência e o livre-arbítrio não são incompatíveis e é um non sequitur afirmar o contrário.
Obrigado, Justin por esta pergunta interessante. Rezo para que você continue a defender o Evangelho de nosso Senhor e que Ele continue a abençoá-lo enquanto procurar crescer nEle.

Fonte: http://www.comereason.org/phil_qstn/phi038.asp#ixzz1ce38T5hO
Tradução: Emerson de Oliveira

2 comentários:

Anônimo disse...

Vou tentar explanar de uma forma bem simples: •

Se Deus é onisciente, ele sabia de tudo o que aconteceria no universo que ele ainda iria criar. Ele tinha a opção de criar infinitos universos diferentes, cada um com infinitas opções de acontecimentos diferentes, mas escolheu criar este, deste jeito, com estas pessoas vivendo estas vidas. Ao se decidir por esta opção, selou nosso destino. Todas as “nossas” decisões já foram tomadas por ele.
Não temos como ser diferentes, ou estaríamos surpreendendo Deus, o que é impossível. Não temos como fazer diferente do que Deus já sabe que vamos fazer. Onisciência e livre arbítrio são incompatíveis. A onisciência cristaliza o futuro.

- A teologia aceita a ideia de predestinação por se tratar de algo indiscutível. A predestinação é o resultado da onisciência de Deus. Isso é um fato.
- O que torna inviável o uso de seu exemplo do menino e o biscoito é que você não é onisciente. Ainda que você IMAGINE que seu filho vá comer o biscoito, é impossível ter certeza, afinal, ele poderá ficar enjoado, por exemplo, e não querer comer.
- No caso de Deus, ele conhece o futuro que ele mesmo criou quando fez o universo. Cada grão de areia que se move já foi uma decisão tomada por Deus antes de todas as coisas virem a tona. Simplificando, todas as decisões que tomamos são frutos da criação de Deus. Para que nos seja permitido o livre-arbítrio Deus deveria abandonar sua "dividade" e tornar-se não-onisciente, afinal, com o futuro cristalizado, não temos como fazer ações diferentes das constadas no plano de Deus, chegando a conclusão de que não poderemos ser condenados por falhas que não escolhemos ter.

Emerson disse...

"Todas as “nossas” decisões já foram tomadas por ele." Saber de antemão não significa predeterminação.
"Onisciência e livre arbítrio são incompatíveis. A onisciência cristaliza o futuro." Saber o que vai acontecer de forma alguma anula o livre-arbítrio. De forma alguma vejo isto como um problema.
Um fator que precisa ser tomado em consideração, e que às vezes é despercebido, é o relativo aos padrões e às qualidades morais de Deus, incluindo a justiça, a honestidade, a imparcialidade, o amor, a misericórdia e a bondade. Portanto, qualquer entendimento do emprego, por parte de Deus, dos poderes de presciência e de predeterminação precisa harmonizar-se não só com alguns desses fatores, mas com todos eles. Evidentemente, seja o que for que Deus saiba de antemão, isso inevitavelmente tem de ocorrer, de modo que Deus é capaz de chamar “as coisas que não são como se fossem”. — Ro 4,17.

Uma das principais diferença entre a teologia católica e protestante é a crença no livre-arbítrio, em que tanto Lutero e Calvino negam. Por causa da criação protestante da doutrina da "sola fide", ou que somente a fé é suficiente para a salvação, estes reformistas ensinaram que cada pessoa não coopera em sua própria salvação. Em essência, a doutrina protestante é que todas as nossas escolhas morais são predeterminadas. A salvação é nosso para realizar, não é algo que temos nenhum controle. A doutrina do "sola fide" contradiz diretamente as Escrituras em muitas passagens e leva a muitos enganos.

Mas sobre "onisciência e livre-arbítrio" serem contraditórios, tenho minhas dúvidas.

Por analogia, saber o que vai acontecer não significa que estamos impedindo ou fazendo tal evento acontecer. O sol nascerá amanhã. Eu não estou fazendo-o subir nem estou impedindo-o de levantar por saber que isso vai acontecer. Da mesma forma, se eu colocar uma tigela de sorvete e uma tigela de couve-flor na frente de uma criança, eu sei qual ela vai escolher - o sorvete. O fato de eu saber de antemão não a restringe de fazer uma escolha livre quando chegar a hora. Ela é livre de fazer uma escolha e saber da escolha não terá efeito sobre ela quando fizer a ação.

Logicamente, Deus saber o que vamos fazer não significa que nós não pode fazer outra coisa. Significa simplesmente que Deus sabe o que temos escolhido para fazer antes do tempo. A nossa liberdade não é restringida pelo conhecimento de Deus. A nossa liberdade é simplesmente percebida de antemão por Deus. Neste caso, a nossa habilidade natural de fazer outra escolha não foi removida mais do que a minha escolha de que escrever dentro dos parênteses (Olá) foi removida por Deus, que sabia que eu iria colocar a palavra "Olá" entre parênteses antes do universo ser feito. Antes de digitar a palavra "Olá", eu pensava que palavra escrever. Minha ponderação foi obra minha e a escolha foi minha. Como, então, eu estava de certa forma restrito em liberdade ao escolher o que escrever, se Deus sabia que eu ia fazer? Não importa que escolhas livremente façamos, ele pode ser conhecido por Deus, e a Sua Onisciência não significa que não estamos fazendo uma escolha livre.

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