A seita fundamentalista do Bule Voador

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

O Bule Voador, blog oficial da Liga Humanista Secular do Brasil, diz que apóia Direitos Humanos. Segundo seu editor Eli Vieira, o Bule Voador é “um blog cético” que “acredita em argumentos”. Entretanto, por defender Direitos Humanos e por apresentar argumentos contrários aos dogmas sexistas e racistas de alguns movimentos sociais que o Bule Voador apóia, no dia 19/08/2011 eu fui bloqueado no blog do Bule Voador – quase ouço os gritos de “Blasfêmia!” – numa demonstração clara de dogmatismo, intolerância e incapacidade de manter um diálogo respeitoso e baseado em argumentos quando seus dogmas são questionados.

Tudo começou com a postagem no Bule Voador do artigo “TJ Kincaid – Dia do Orgulho Hétero em São Paulo (Martinsburgo)” que contém um vídeo em que o tal TJ Kincaid desanca debochada e ofensivamente a cidade de São Paulo devido à proposta de criação do Dia do Orgulho Heterossexual.
Entre muitas demonstrações de desprezo e poucos argumentos, como chamar a cidade por outro nome (Martinsburg) por sua incapacidade de pronunciar “São Paulo” corretamente, o sujeito entoa o mantra de sempre contra qualquer um que ouse equiparar a heterossexualidade à homossexualidade em termos de legitimidade de expressão de orgulho: “heterossexuais não precisam de um dia de orgulho”.
Os primeiros 19 comentários apoiaram o achincalhamento de TJ Kincaid contra os heterossexuais.
O 20° comentário foi de Félix Maranganha, autor do blog O Calango Abstrato, cuja leitura recomendo – e tenho certeza de que meus leitores vão apreciar imensamente textos como “O Dia do Orgulho dos que Gostam de Pimentão e sua Polêmica“. Quando terminarem de ler este artigo aqui, leiam o artigo do Félix sobre os pimentões. Prometo que só os intolerantes terão azia.
Pois bem, depois de 19 comentários contra, o Félix disse que não vê nada demais num “Dia do Orgulho Hetero”. E defendeu sua posição com uma série de argumentos que, para mim, beiram à obviedade, de tão simples, objetivos e ponderados que são.
Eis alguns extratos significativos:
Quando defende-se o direito de os homossexuais serem reconhecidos, defendemos pela igualdade de direitos entre homossexuais e heterossexuais. E direitos iguais, pessoal, são direitos iguais. Significa que se temos um dia da consciência negra, é igualmente permitido em uma sociedade que se permita um dia da consciência branca. Os homens têm tanto direito a um Dia do Homem quanto uma mulher tem direito ao Dia da Mulher. Quando tiramos o direito de homens brancos heterossexuais e católicos de terem uma data que os represente, estamos tomando a mesma posição dos mais reacionários dentre eles, que têm o mesmo pensamento conservador.
(…)
Depois aparece um heterossexual, propõe uma data (talvez vítima de heterofobia, não sei), e a galera faz até mesmo abaixos-assinados, e vem uma galera que se diz Humanista Secular e Laica, e acha-se no direito de determinar que os heterossexuais não devem ter o direito a uma data comemorativa equivalente ao Dia do Orgulho Gay, com isso adotando a mesma intolerância, tratando essas pessoas como piada e desrespeitando seus motivos.
O que me assusta é que acho que vocês esqueceram que quando a constituição (e a DUDH) dizem que os direitos são iguais para todos, eles são DE FATO iguais para todos, independente de qualquer condição a que eles pertençam. A igualdade de direitos, pela DUDH, é direito inalienável.
(…)
Por essas e outras que muitos que se dizem humanistas não são considerados humanistas por mim, pois não prezam pelo humano, mas por ideologias particulares.
A discussão que se seguiu foi extensa e não vale a pena reproduzi-la aqui. Quem quiser pode clicar no título do artigo do Bule Voador lá no segundo parágrafo deste artigo e ler a discussão no site original. Eu selecionei somente umas poucas postagens do Eli Vieira, Presidente da Liga Humanista Secular do Brasil, para dar uma idéia do quanto ele “acredita em argumentos”:
Félix Maranganha,
muito interessante sua argumentação. E ela é tão interessante quanto assimétrica e míope.
Um primor de ad hominem ofensivo, vindo do presidente da LiHS como resposta a uma crítica dura, porém polida e bem fundamentada.
E mais abaixo:
Félix,
eu sei que você tem uma tendência de apelar para o relativismo epistemológico, mas estamos num blog cético, e aqui acreditamos em argumento.
Então, se eu estou errado, eu estou errado e ponto final, fazendo você o certo. E se eu estou certo, então você está errado, e a vida segue. Não existe esse negócio de todas as opiniões serem igualmente justificadas.
Incrível: na mesma frase ele consegue desqualificar os argumentos do interlocutor atacando-o com um ad hominem e afirmar que acredita em argumentos. Na frase seguinte consegue reduzir um debate político complexo sobre o qual não há qualquer concordância quanto à validade das premissas a um maniqueísmo trivial do tipo “certo ou errado”. E com essa brilhante intervenção o sujeito acha que encerra a discussão…
Já irritado com as generalizações absurdas e ofensivas contra “homens brancos heterossexuais” e incomodado com o tratamento que foi dispensado ao Félix, eu entrei no debate com esta mensagem:
Este é o primeiro parágrafo de um artigo que publiquei em meu blog:
“Abriram um tópico na comunidade de Direitos Humanos sobre a aprovação pela Câmara de Vereadores da Cidade de São Paulo do “Dia do Orgulho Heterossexual”. As reações à notícia mostraram tamanha intolerância, com manifestações irônicas, debochadas e agressivas contra os heterossexuais, que me fizeram perceber que as acusações de “Ditadura Gayzista” estão longe de ser infundadas.”
Agora fico pasmo em ver o mesmo tipo de intolerância repercutido aqui no Bule Voador – como bem disse o Félix, vindo de gente SUPOSTAMENTE humanista.
A continuação do artigo está aqui:
http://arthur.bio.br/2011/08/03/sexismo/o-dia-do-orgulho-heterossexual-e-a-ditadura-gayzista
Nos próximos dias virá mais chumbo contra a absurda DISCRIMINAÇÂO INVERTIDA travestida de “igualdade” que estão tentando meter goela abaixo da população masculina, branca e heterossexual no Brasil.
Arthur Golgo Lucas
Sutil como um rinoceronte tendo um ataque epilético numa loja de louças, reconheço, mas como se deve reagir quando se está sendo ofendido e ridicularizado por afirmar que “direitos iguais são direitos iguais” e por não se submeter docilmente à humilhação de ter que aceitar calado afirmações como “homens brancos heterossexuais não tem motivo para ter orgulho” quando se é um homem branco heterossexual que por mais de duas décadas e meia lutou por direitos iguais para todos e agora se vê tratado como um canalha opressor?
O recado era claro: “As reações à notícia mostraram tamanha intolerância, com manifestações irônicas, debochadas e agressivas contra os heterossexuais, que me fizeram perceber que as acusações de ‘Ditadura Gayzista’ estão longe de ser infundadas.” Mas estavam todos tão cegos por ver seus dogmas questionados que não viam os abusos e as ofensas que cometiam.
E, como o Eli Vieira havia apresentado toda uma série de falácias sobre o significado de “igualdade”, logo abaixo eu apresentei os seguintes questionamentos:
Certo, Eli. Então, responde isso:
Conferir um direito a A e não conferir o mesmo direito a B é lutar pela IGUALDADE?
Exaltar a luta de DIREITOS IGUAIS quando A luta e execrá-la quando B luta é lutar pela IGUALDADE?
Dizer que A deve ter orgulho de sua sexualidade e que B deve ter vergonha de sua sexualidade, quando ambos requerem idêntica oportunidade para manifestar o orgulho por sua sexualidade é lutar pela IGUALDADE?
Dizer que o orgulho gay é luta por direitos para si enquanto o orgulho hetero é tentativa de negação de direitos dos outros é lutar pela IGUALDADE?
Nenhuma das quatro perguntas jamais foi respondida. Ao invés disso, o Eli Vieira respondeu o seguinte:
Arthur Golgo Lucas,
para começo de conversa, falar em “ditadura gayzista” é discurso de reacionário. Curioso ver você e o Olavo de Carvalho se unirem nesse discursinho.
Ninguém está negando direitos a heterossexuais, os heterossexuais podem fazer a parada do orgulho hétero quanto quiserem. Mas um projeto propondo o reconhecimento estatal de um dia de demonstrações de luta pela reafirmação de uma maioria política é uma provocação ridícula e não cabe numa democracia.
A parada LGBT começou a acontecer antes de reconhecimento estatal, por que a parada hétero não faz o mesmo? Cadê a parada hétero? A última que eu vi era de um grupinho de neonazistas.
O projeto de lei é uma provocação contra o movimento social de uma minoria.
Ao menos que você esteja sendo obrigado a se casar com um homem, Arthur, melhor pensar duas vezes antes de repetir o discursinho podre do Olavo de Carvalho por aqui.
Abraço.
Traduzindo:
- Começou me ofendendo.
- Arrogou-se o direito de decidir do alto de sua infalibilidade papal o que cabe e o que não cabe numa democracia.
- Arrogou-se o direito de decidir como devem agir os movimentos sociais e os legisladores para obterem legitimidade e “insinuou” que Orgulho Hetero é coisa de nazista.
- Apresentou seu ponto de vista ideológico do projeto de lei que instituía o Dia do Orgulho Heterossexual como se fosse A Verdade inquestionável.
- Terminou fazendo uma ameaça.
Eu perguntei:
Senão o quê? Qual é a ameaça? Quem diverge será bloqueado e terá suas postagens deletadas pela ousadia de não comungar com os excessos dos movimentos sociais? Tudo que os gays disserem tem que ser aceito como verdade revelada sem chance de questionamento caso contrário os infiéis sofrerão a fervura eterna no Chá do Bule?
Proféticas palavras.
Primeiro o Eli Vieira postou o seguinte comentário:
Reacionários são reacionários, não importa de onde vêm ou que alegações fazem em benefício próprio.
Pão pão, queijo queijo.
Depois ignorou uma série de perguntas e argumentos que apresentei e saiu-se com esta clara confirmação de que o tempo todo em que falou comigo partiu da falácia do pote envenenado:
Desculpe, mas quem fala em “ditadura gayzista” hoje no Brasil é reacionário sim. É uma coisa meio automática, sabe?
Boa sorte aí você e seu exército de um homem só.
Finalmente, quando fui responder a um comentário que me citava nominalmente, no dia 19/08/2011, eu descobri que havia sido bloqueado no Bule Voador: ao tentar responder a uma citação nominal que me foi feita, meus comentários sumiam ao serem postados.
No início não acreditei que a intolerância do Bule Voador pudesse chegar esse ponto, mas quando postei o mesmo comentário com outra identificação e o comentário foi imediatamente aprovado, ficou bem claro que não era a estrutura do comentário que tinha causado o bloqueio e sim a minha identificação.
E, para jogar uma pá de cal sobre qualquer dúvida que pudesse ter restado, o comentário que havia sido aprovado foi posteriormente deletado ao perceberem que era meu. Evidentemente, o Bule Voador não quer que seus demais leitores sejam informados de que eu fui bloqueado, nem que conheçam o meu ponto de vista nesta história.
Tanto quanto no Antigo Testamento, agora está claro que pela cartilha do Bule Voador não basta excomungar os hereges, é necessário queimar suas casas, matar seu gado e jogar sal em suas lavouras, para que nada possa nascer ali.
Conclusão
A menos que esteja lidando com trolls de internet, quem tem razão em um debate não precisa abusar do poder de moderação para calar o interlocutor. O Eli Vieira e outros membros do Bule Voador conhecem meu blog, me conhecem pessoalmente e sabem que não sou um troll de internet. Ao me bloquearem e deletarem meus comentários em função de meras divergências na avaliação da atuação dos movimentos sociais, eles mostram que o Bule Voador age do mesmo modo fundamentalista e intolerante que tanto criticam nas religiões que vêem seus dogmas irracionais questionados.
Que feio, Bule Voador. Que vergonha.
Arthur Golgo Lucas – www.arthur.bio.br – 21/08/2011

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