Continuação da refutação do "Sermão da Montanha", de Matt Dillahunty (parte 2)

terça-feira, 31 de janeiro de 2012



Matt Dillahunty, o apresentador do "The Atheist Experience", fez uma crítica ao "Sermão da Montanha", ao qual continuo a refutar aqui.

Matt diz sobre Mt. 5, 21-26:

Aqui Jesus define crimes pensamento e de expressão como equivalente ao assassinato. Embora possa ser um bom conselho sugerir que as pessoas falem civilizadamente umas com as outras, é moralmente corrupto para estabelecer dizer que se você odeia alguém, é o equivalente filosófico para assassiná-la. Pensamentos não são crimes .... ações sim. Enquanto Jesus certamente não diz que devemos colocar as pessoas à morte por simplesmente pensarem sobre assassinato, seu ponto de vista aqui representa uma moral ingênua que constrói uma doutrina onde os crimes de pensamento devem resultar em castigo eterno.
 Esta moralidade simplista é um eco da moralidade do Antigo Testamento, onde a pena de morte era prescrita para o assassinato, bem como trabalhar no sábado ou ser uma criança rebelde. É desenvolvida no Novo Testamento onde a punição infinita é prescrita para crimes finitos, incluindo crimes de pensamento - especificamente o crime de pensamento de descrença.
 Ele continua estabelecendo "Tolo" como o equivalente moderno do discurso do ódio e afirmando que quem diz isso está em perigo do fogo do inferno (a primeira de várias referências para o inferno, que institui a questão doutrinária na nota anterior, e um problema para aqueles que não atribuem a um inferno de fogo). Mesmo assim, Jesus se refere a pessoas como tolas em várias ocasiões ( Mateus 23,17 , Mateus 23,19 , Lucas 11,40 , Lucas 24,25 ). Este é apenas um caso de "Faça como eu digo mas não faça o que eu faço"? Esse tipo de exemplo representa uma divindade sábia e benevolente?
Bom, Matt continua sua aventura exegética alegando que as palavras e ensinos de Jesus não refletem nada mais do que um simples homem com complexo de grandeza. Mas vamos lá.

No Sermão do Monte, Jesus alertou seus seguidores: “Digo-vos que todo aquele que continuar furioso com seu irmão terá de prestar contas ao tribunal de justiça; mas, quem se dirigir a seu irmão com uma palavra imprópria de desprezo terá de prestar contas ao Supremo Tribunal; ao passo que quem disser: ‘Tolo desprezível!’, estará sujeito à Geena ardente.” — Mateus 5,22.

Jesus usou coisas que os judeus conheciam — o tribunal de justiça, o Supremo Tribunal e a Geena ardente — para lhes transmitir a ideia de que os pecados mais graves seriam punidos com maior severidade.

Primeiro, Jesus disse que todo aquele que continuar furioso com o seu irmão terá de prestar contas “ao tribunal de justiça”, o tribunal local. De acordo com a tradição, esses tribunais eram montados em cidades com uma população de 120 homens adultos ou mais. (Mateus 10,17; Marcos 13,9) Os juízes nesses tribunais tinham autoridade para proferir sentenças, até mesmo em casos de assassinato. (Deuteronômio 16,18; 19,12; 21,1-2) Dessa forma, Jesus estava mostrando que uma pessoa que nutre ódio intenso pelo irmão comete um pecado grave.

A seguir, Jesus disse que “quem se dirigir a seu irmão com uma palavra imprópria de desprezo terá de prestar contas ao Supremo Tribunal”. A palavra grega rhaká (nota), traduzida “uma palavra imprópria de desprezo”, significa “vazio” ou “cabeça oca”. Segundo o The New Thayer’s Greek-English Lexicon of the New Testament (Novo Léxico Grego-Inglês do Novo Testamento, de Thayer) essa palavra era “um termo de reprovação usado pelos judeus na época de Cristo”. Assim, Jesus estava alertando contra a gravidade de expressar ódio por um irmão usando um termo depreciativo. Com isso, Jesus queria dizer que quem usasse essa palavra seria julgado não apenas por um tribunal local, mas pelo Supremo Tribunal, todo o Sinédrio — o corpo judicativo em Jerusalém, composto do sumo sacerdote e de 70 anciãos e escribas. — Marcos 15,1.

Por fim, Jesus explicou que uma pessoa que se dirigisse à outra com a expressão “tolo desprezível” estaria sujeita à Geena ardente. O termo “Geena “ vem das palavras hebraicas geh hinnóm, que significam “vale de Hinom”, situado ao oeste e ao sul da Jerusalém antiga. Nos dias de Jesus, esse vale havia se tornado um lugar para queimar lixo, inclusive corpos de criminosos repulsivos que não eram considerados dignos de um enterro decente. Por isso, a palavra “Geena” era um símbolo apropriado de destruição ou punição total.

Então, o que significa a expressão “tolo desprezível”? A pronúncia da palavra usada nesse texto era similar à de um termo hebraico que significa “rebelde” ou “sedicioso”. Indica uma pessoa que é moralmente desprezível, apóstata, e que se rebela contra Deus. Portanto, a pessoa que chama seu irmão de “tolo desprezível” está dizendo que ele merece receber a mesma punição que cabe a alguém que se rebela contra Deus, a destruição eterna. Do ponto de vista de Deus, a própria pessoa que proferisse tal condenação contra outra poderia merecer essa sentença severa. — Deuteronômio 19,17-19.

Na realidade, Jesus estava estabelecendo para seus seguidores um padrão mais elevado do que o encontrado nos princípios da Lei mosaica. Embora as pessoas acreditassem que o assassino teria de “prestar contas ao tribunal de justiça”, Jesus foi além disso. Ele ensinou que seus seguidores deveriam até mesmo evitar guardar rancor contra seus irmãos. — Mateus 5,21-22.

Assim, Jesus mostrou que a raiz do problema do assassinato é mais profunda do que o próprio ato violento; é a atitude que se desenvolve no coração do assassino. Se as pessoas não permitissem que o ressentimento ou a ira se desenvolvessem, não haveria violência premeditada. Quanto derramamento de sangue seria evitado se as pessoas aplicassem esse ensino!

Sobre a alegação de Jesus ter mencionado "tolos" em  Mateus 23,17, Mateus 23,19 , Lucas 11,40 , Lucas 24,25, devemos notar que Jesus chamou os escribas e os fariseus corretamente de “tolos e cegos”, isto é, pessoas sem sabedoria e moralmente imprestáveis, pois haviam distorcido a verdade com tradições humanas e se tornado hipócritas. Ademais, Jesus respaldou a acertada descrição que fizera, ilustrando a falta de discernimento deles. (Mt 23,15-22; 15,3)

Jesus afirma, pois, que o mais grave é destruir a boa reputação do próximo e privá-lo de seu bom nome. Não há castigo muito severo para o fofoqueiro maligno, para as fofocas de intenção iníqua que podem chegar a assassinar o bom nome de qualquer pessoa. Tal conduta merece, no sentido mais literal possível, a condenação do inferno.
Como já dissemos, esta gradação dos castigos não deve ser tomada literalmente. Jesus está dizendo o seguinte: "Na antiguidade se condenava o assassinato; e certamente o assassinato continua sendo mau. Mas eu lhes digo que não são apenas as ações exteriores do homem as que merecem ser julgadas; também seus pensamentos mais íntimos estão sob o olhar escrutinador e o julgamento de Deus. A ira persistente é má; piores ainda são as palavras depreciativas, mas o pior de tudo é a malícia que destrói o bom nome do próximo."
O homem que é escravo de sua ira, que se dirige a outros com um tom depreciativo, o homem que destrói o bom nome de outros, pode não ter assassinado a ninguém, mas em seu coração é um assassino.

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