Vaticano chocado com uma reação de hostilidades da Grã-Bretanha ao Papa

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

 Por: João Laughland
Tradução: Emerson de Oliveira

A hostilidade que muitos britânicos estão expressando ao Papa Bento XVI chocou os membros da Igreja em Roma que se preparam para a primeira visita oficial de Estado à Grã-Bretanha de um pontífice reinante.

A visita de quatro dias do Papa, que começa quinta-feira, provocou reações negativas que superam qualquer coisa que o Papa encontrou mesmo quando viajou a países não-cristãos, como a Turquia ou Israel.

pope,benedict,britain,protests,aide,controversy,third,world,countryOs protestos vão desde o mesquinho e do mau gosto a veemência ideológica. Alguns até pediram para prender o Papa em sua chegada a Edimburgo, na Escócia, onde a Rainha Elizabeth II deve recebê-lo.

Na parte inferior da escala, o custo da visita - uma estimativa de 10 milhões de libras (cerca de 15,4 milhões de dólares dos EUA) aos contribuintes britânicos - tem gerado repetidas queixas, embora tais protestos não são ouvidos quando outros chefes de Estado vêm a Grã-Bretanha.

Ainda mais grave, surgiu uma controvérsia em abril, após o vazamento de um memorando de uma brincadeira escrito por um funcionário do Ministério de Negócios Estrangeiros sugerindo que o Papa deveria abençoar o casamento gay e abrir uma clínica de aborto como parte de seu programa oficial.

O governo ofereceu um pedido de desculpas para a Santa Sé, mas a brincadeira demonstrou o tipo de desprezo ignorante que ocorre nos corredores do poder na Grã-Bretanha.

A National Secular Society, um grupo de lobby ateu, apresentou ao governo uma petição contra a visita papal e vai manifestar-se contra o pontífice durante a visita. As opiniões do grupo são amplamente citadas e promovidas pela imprensa britânica, sempre que a visita papal é discutida. Os protestos da Sociedade contra o Islã, ao contrário, parecem limitados à campanha contra a matança ritual de animais.

O pior de tudo foram as artimanhas daqueles que dizem que querem colocar o Papa atrás das grades. O professor Richard Dawkins, da Universidade de Oxford, cientista evolucionista e ateu militante, cujo livro  "The God Delusion" (Deus: Uma Ilusão) vendeu milhões, declarou que ele iria planejar uma emboscada legal para prender o Papa.

Juntamente com o advogado de direitos humanos Geoffrey Robertson QC, Dawkins afirma que o Papa tem culpa pelo escândalo de abuso infantil. Uma semana antes da visita papal, Robertson publicou um livro argumentando que Bento deve ser processado por crimes contra a humanidade e explicou por que ele acredita que o Papa não pode invocar a imunidade diplomática.

E na segunda-feira, poucos dias antes do avião do Papa pousar em Edimburgo, o ativista dos direitos dos homossexuais Peter Tatchell recebeu uma hora no horário nobre da televisão para atacar o Papa, a visita, e o catolicismo em geral, nos termos mais simplistas e virulentos.

Na verdade, o clima na Grã-Bretanha em torno da visita foi tão mau-humorado que o embaixador britânico junto à Santa Sé se sentiu compelido a sugerir em agosto que é melhor para o Papa gerar hostilidade do que indiferença.

Por que haveria tanta hostilidade em um país cristão quando não se faz o mesmo a um muçulmano ou um judeu?

O fato de que esses ataques vêm de pessoas que já estão desacreditadas nada fez para conter sua ressonância. Tatchell ataca o Papa sobre o escândalo de abuso infantil, mas ele defendeu relações sexuais entre adultos e crianças a partir dos 9 em uma carta ao The Guardian em 1997.

Robertson, entretanto, foi demitido de seu posto como presidente do Tribunal Especial para Serra Leoa em 2004 porque se recusou  como juiz a retirar um processo em um caso cujo réu tinha sido declarado culpado em um de seus livros. Mas ele continua a constituir uma autoridade sobre a lei e seu processo.

Por outro lado, a efusão do sentimento anticatólico colocou tanto os católicos britânicos na defensiva que muitos deles já pensam que seus adversários estão, talvez, pelo menos parcialmente certos.

A Grã-Bretanha tornou-se um dos países mais virulentamente anti-cristãos do mundo. Depois de algumas décadas em que os preconceitos tradicionais anticatólicos caíram em suspenso, os reflexos anti-papistas de uma antiga nação protestante voltaram com uma vingança, estimulado por ataques ideológicos sobre a única igreja cristã que parece se importar. Os anglicanos, entretanto, tem estado envolvidos em seus problemas internos por anos.

Comum a todos esses ataques é uma obsessão com o sexo e uma recusa em ver o cristianismo como nada além de um "ensino", uma simples série moral de "não farás isso".

Não se poderia esperar que ateus militantes compreendessem a noção de transcendência ou divindade, mas a hostilidade generalizada da Grã-Bretanha para a maior religião do mundo não coincide com a sua indulgência inútil de todos os outros movimentos, sejam marginais ou incipientes, que se rotulam de "espirituais".

A Grã-Bretanha tem percorrido mais a estrada do politicamente correto do que sociedades européias tradicionalmente permissivas, como os da Holanda ou na Escandinávia. Numa altura em que o conservadorismo social básico de alguns desses países está se manifestando em vários movimentos de protesto, especialmente contra a imigração muçulmana, a política e sociedade britânica está agora bem à esquerda da média da média da esquerda da Europa Ocidental.

Pouco depois de David Cameron ter sido eleito, o novo primeiro-ministro "conservador" organizou uma festa no jardim na 10 de Downing Street para os homossexuais mais proeminentes da nação. Esse tipo de apoio demonstrativo para gays é algo que nem mesmo os holandeses progressistas fizeram e, certamente, não é algo que um político de direita normalmente julgaria necessário.

O contraste também é impressionante com os Estados Unidos, que é, como Grã-Bretanha, um país com uma forte ética protestante, mas ao contrário da Inglaterra, um país onde a religião desempenha um grande papel na vida pública.

Enquanto que o desejo de um pastor da Flórida para queimar o Corão foi amplamente denunciado como extremista, mesmo nos Estados Unidos, o clima predominante na Inglaterra tem como objetivo principal lançar ataques virulentos contra o catolicismo. A BBC trata os opositores do Papa como militantes decentes com uma voz que merece ser ouvida, mas ridiculariza os opositores da construção de uma mesquita no marco zero como caipiras de direita e racistas.

Quantas mudanças tivemos desde a visita pastoral de João Paulo II em 1982, quando o pontífice foi recebido com generosidade e boa vontade. O país que Joseph Ratzinger vai conhecer esta semana mudou de maneira irreconhecível desde então, e para o pior, para se tornar um pouco mais rude e grosseiro, um país obcecado por sexo, a Rude Britannia.

John Laughland, um cidadão britânico, é direto de estudos do Instituto da Democracia e da Cooperação, em Paris.

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