O espiritismo e a divindade de Cristo (parte 1)

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011


Por: Emerson de Oliveira
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Este artigo visa resfutar as idéias contidas no livro "Obras Póstumas", de Allan Kardec. Neste livro, há um capítulo chamado "Estudo sobre a natureza de Cristo". Numa abordagem ousada, já em seu início, tenta falar que a "controvérsia" em torno da natureza de Cristo ainda não se resolveu (!) e que isto foi responsável, durante os séculos, pela origem de várias seitas. Nesta segunda parte temos que concordar, aliás, é algo digno das seitas distorcerem a pessoa de Jesus. Muitos dizem sê-lo só um homem, outros só Deus, um profeta, um mensageiro, um...neste ponto, já é seita, pois o cristianismo ortodoxo vê Jesus como Deus. Vamos analisar o ponto de vista espírita.
Já de início também notamos que suas idéias lembram algo do mormonismo e das Testemunhas de Jeová, com a velha tática de dizer que a Igreja "apostatou" ou recebeu ensinos pagãos e por isso era necessário vir quem? Eles, para que pudesse a verdade ser trazida de volta. Todas as citações do livro estão em preto e minhas respostas em azul (todos os grifos são nossos).
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No exame, que vamos fazer, da questão da divindade do Cristo, pondo de lado as sutilezas da escolástìca, que unicamente serviram para tudo embaralhar sem esclarecer coisa alguma, apoiar-nos-emos exclusivamente nos fatos que ressaltam do texto do Evangelho e que, examinados friamente, conscienciosamente e sem espírito de partido, superabundantemente facultam todos os meios de convicção que se possam desejar.
Ora, entre esses fatos, outros não há mais preponderantes, nem mais concludentes, do que as próprias palavras do Cristo, palavras que ninguém poderá refutar, sem infirmar a veracìdade dos apóstolos. Pode-se interpretar de diferentes maneiras uma parábola, nma alegoria; mas, afírmações precisas, sem ambigüidades, repetidas cem vezes, não poderiam ter duplo sentido. Ninguém pode pretender saber melhor do que Jesus o que ele quis dizer, como ninguém pode pretender estar mais bem informado do que ele sobre a sua própria natureza. Desde que ele comenta suas palavras e as explica para evitar todo equívoco, é a ele que devemos recorrer, a menos lhe neguemos a superioridade que lhe é atrìbuída e nos sobreponhamos à sua própria intelïgência. Se ele foi obscuro em certos pontos, por usar de linguagem figurada, no que concerne à sua pessoa não há equívoco possível. Antes de examinar as palavras, vejamos os atos.
Pelo que vemos desde o início do capítulo, o autor espírita quer "filtrar" as palavras de Jesus e dos discípulos e apóstolos, vendo só aquilo que lhe apraz. Não é a toa que existe o "Evangelho Segundo o Espíritismo". A Bíblia, tal a como conhecemos hoje, é lacrada e canônica, não tendo outro escrito além dela, como livro máximo, para os cristãos. Mas as seitas tentam tirar o que lhe agradam e interpretam a seu prazer os textos. Pelo visto, o autor diz que as palavras dos evangelistas, quando não se conformam à sua doutrina, são só opiniões. As seitas não interpretam o Evangelho como TODO inspirado.
II - Os milagres provam a divindade do Cristo?
Segundo a Igreja, a divindade do Cristo está firmada pelos milagres, que testemunham um poder sobrenatural. Esta consideração pode ter tido certo peso numa época em que o maravilhoso era aceito sem exame; hoje, porém, que a Ciência levou suas investigaçôes até as leis da Natureza, há rnais incrédulos do que crentes nos rnilagres, para cujo descrédito não contribuíram pouco o abuso das ìmitações fraudulentas e a explorações que dessas imitações se há feito.
Neste segundo item do capítulo, o autor discorre sobre os milagres de Jesus e se são sinais de Sua divindade. O autor tenta dar a idéia de que todos os milagres tiveram explicação científica, tentando, talvez, onerar Cristo de seu papel neles. Como o mormonismo, o espiritismo procura culpar a Igreja de conspiração, alteração e guarda de segredos, que podiam acabar com ela (!). Depois, insinua que milagres não são privilégio só da religião cristã e que outras religiões tem ou tiveram também milagres ou atoso miraculosos, alegando que a Igreja só teve como resposta a eles que eram coisa do demônio.
Os verdadeiros milagres só acontecem dentro do cristianismo. Não se há relatos de ressurreição, curas ou prodígios verídicos deste porte fora do cristianismo. Vemos que o texto inteiro serve para demonstrar unicamente que Jesus não era divino só em base de Seus milagres. Allan Kardec parece querer dizer "há explicação científica para tudo". 


III - As palavras de Jesus provam a sua divindade?

Neste terceiro tópico, Allan Kardec discorre sobre as palavras de Cristo (lembre-se que ele parece querer ter dito que as palavras de Cristo e a dos apóstolos que vão ao encontro das idéias de Kardec é que valem e que se há discordância era só "opinião pessoal" do hagiógrafo?) e se elas provam que Ele era Deus.
De antemão dizemos que os espíritas não diferem muitas das Testemunhas de Jeová no tocante a este tema, só com a diferença que as TJ parecem acolher mais os outros textos da Bíblia, ao contrário do espiritismo, que passa um "filtro" naquilo que não lhe agrada. A lei parece ser essa: "só vale a palavra de Cristo. Se algum discípulo insinuar que Jesus era divino, era só opinião dele". É difícil dialogar neste ponto, pois os espíritas aparentemente não crêem em toda a revelação bíblica e que ela é TODA inspirada. Só partem para as palavras que eles gostam, descartando toda exegese e hermenêutica bíblica. Mas mesmo assim, vamos dar uma chance a eles.
Não vamos discorrer de todos os versículos citados por Kardec, mas só alguns representativos. Vamos começar com Jo. 8.42:

"Replicou-lhes Jesus: Se Deus fosse, de fato, vosso pai, certamente, me havíeis de amar; porque eu vim de Deus e aqui estou; pois não vim de mim mesmo, mas ele me enviou"

Antes de respondermos este versículo quero dizer que, independente da visão espírita sobre a revelação bíblica, que ela é TODA inspirada e é a PALAVRA de Deus, poderei usar versículos de toda a Bíblia para refutar o ensino espírita, visto que todos se harmonizam. Pois bem, vejamos: sem ter em conta o contexto, o autor interpreta este versículo isoladamente, ignorando o painel todo. Querendo usar este versículo para provar que Jesus não é Deus, Kardec na verdade nos dá uma tremenda PROVA da divindade de Jesus. O Quadro Verbais do Novo Testamento, de A.T. Robertson, diz:
Porque eu vim de Deus (ego gar ek tou theo exelthon). Segundo aoristo ativo indicativo de exercomai, evento histórico definido (a Encarnação). Veja Jo.4:30 para exhlyon ek. Em Jo. 13:3 e 16:30 é dito que Jesus veio de (apo) Deus. A distinção não será pressionada. Note a consciência definida de pré-existência com Deus como em Jo.17:5
Em todos os momentos vemos que Jesus fazia tudo em uníssono com o Pai, não que era inferior a Ele. Jesus veio de Deus, portanto, tinha a mesma natureza que Ele. Não foi criado, mas era co-existente com Deus. A palavra grega para vim, em grego, é exelthon, que significa aqui seu exeleuxis divino, ou origem do Pai, por comunicação com a essência divina, assim como a união do divino logos com a natureza humana. Cristo não veio de Si mesmo, como os falsos profetas (Jr. 23.21). Cristo não era só um humano pregador, mas Deus feito carne no meio de nós.
O mesmo capítulo de João dá provas inequívocas da divindade de Jesus (veja Jo. 8.28). A título de resolver o assunto, vemos Jo.8.58.

"Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade eu vos digo: antes que Abraão existisse, EU SOU"
Allan Kardec nem passou perto deste versículo. Neste ponto temos que reconhecer que as Testemunhas de Jeová, mesmo sendo subordicionalistas, tentaram estudar outros versículos além dos citados por Kardec, mesmo interpretando (e distorcendo na sua Tradução do Novo Mundo) este versículo-chave. O que ele quer dizer?
Quer dizer que Jesus estava evocando o mesmo título que Deus anunciou em Ex. 3.14. Lá Deus disse que "EU SOU O QUE SOU". Não era um nome, mas uma afirmação do que Deus é. Jesus afirmou isto para si, portanto, Jesus é Deus. Cristo estava querendo dizer que "Abraão veio à existência", enquanto "Eu Sou" ou seja, "Eu existo de eternidade a eternidade". Lembre-se que estas são palavras de Cristo, não de seus discípulos.
Vejamos um outro versículo citado por Kardec (Lc. 9,48):

"Quem receber esta criança em meu nome a mim me recebe; e quem receber a mim recebe aquele que me enviou; porque aquele que entre vós for o menor de todos, esse é que é grande"

Entendendo literalmente o versículo e isolando-o fica fácil pensar que Jesus e Deus eram duas pessoas separadas e com nada em comum em natureza a não ser objetivo. Mas vamos ver de perto. Os espíritas, como as TJ, discordam da Encarnação, onde Deus se fez homem para nos salvar. Jesus é Jeová, não três deuses, mas UM Deus em TRÊS pessoas (o Espírito Santo procede do Pai e do Filho). Allan Kardec aparentemente não entende a relação DEUS PAI e DEUS FILHO aqui e deduz: Jesus deve ser subordinado ao Pai. Mas isto leva a estranhas conclusões.

(Continua...)

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