Artigo do Cardeal Arcebispo de São Paulo sobre a Parada Gay

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Por cardeal Odilo Scherer

cardealodiloDom Odilo Pedro CARDEAL SchererSÃO PAULO, sexta-feira, 1º de julho de 2011 (ZENIT.org) - Eu não queria escrever sobre esse assunto; mas diante das provocações e ofensas ostensivas à comunidade católica e cristã, durante a Parada Gay deste último domingo, não posso deixar de me manifestar em defesa das pessoas que tiveram seus sentimentos e convicções religiosas, seus símbolos e convicções de fé ultrajados

Ficamos entristecidos quando vemos usados com deboche imagens de santos, deliberadamente associados a práticas que a moral cristã desaprova e que os próprios santos desaprovariam também. Histórias romanceadas ou fantasias criadas para fazer filmes sobre santos e personalidades que honraram a fé cristã não podem servir de base para associá-los a práticas alheias ao seu testemunho de vida. São Sebastião foi um mártir dos inícios do Cristianismo; a tela produzida por um artista cerca de 15 séculos após a vida do santo, não pode ser usada para passar uma suposta identidade homossexual do corajoso mártir. Por que não falar, antes, que ele preferiu heroicamente sofrer as torturas e a morte a ultrajar o bom nome e a dignidade de cristão e filho de Deus?!


“Nem santo salva do vírus da AIDS”. Pois é verdade. O que pode salvar mesmo é uma vida sexual regrada e digna. É o que a Igreja defende e convida todos a fazer. O uso desrespeitoso da imagem dos santos populares é uma ofensa aos próprios santos, que viveram dignamente; e ofende também os sentimentos religiosos do povo. Ninguém gosta de ver vilipendiados os símbolos e imagens de sua fé e seus sentimentos e convicções religiosas. Da mesma forma, também é lamentável o uso desrespeitoso da Sagrada Escritura e das palavras de Jesus – “amai-vos uns aos outros” – como se ele justificasse, aprovasse e incentivasse qualquer forma de “amor”; o “mandamento novo” foi instrumentalizado para justificar práticas contrárias ao ensinamento do próprio Jesus.


A Igreja católica refuta a acusação de “homofóbica”. Investiguem-se os fatos de violência contra homossexuais, para ver se estão relacionados com grupos religiosos católicos. A Igreja Católica desaprova a violência contra quem quer que seja; não apoia, não incentiva e não justifica a violência contra homossexuais. E na história da luta contra o vírus HIV, a Igreja foi pioneira no acolhimento e tratamento de soro-positivos, sem questionar suas opções sexuais; muitos deles são homossexuais e todos são acolhidos com profundo respeito. Grande parte das estruturas de tratamento de aidéticos está ligada à Igreja. Mas ela ensina e defende que a melhor forma de prevenção contra as doenças sexualmente transmissíveis é uma vida sexual regrada e digna.


Quem apela para a Constituição Nacional para afirmar e defender seus direitos, não deve esquecer que a mesma Constituição garante o respeito aos direitos dos outros, aos seus símbolos e organizações religiosas. Quem luta por reconhecimento e respeito, deve aprender a respeitar. Como cristãos, respeitamos a livre manifestação de quem pensa diversamente de nós. Mas o respeito às nossas convicções de fé e moral, às organizações religiosas, símbolos e textos sagrados, é a contrapartida que se requer.


A Igreja Católica tem suas convicções e fala delas abertamente, usando do direito de liberdade de pensamento e de expressão. Embora respeitando as pessoas homossexuais e procurando acolhê-las e tratá-las com respeito, compreensão e caridade, ela afirma que as práticas homossexuais vão contra a natureza; essa não errou ao moldar o ser humano como homem e mulher. Afirma ainda que a sexualidade não depende de “opção”, mas é um fato de natureza e dom de Deus, com um significado próprio, que precisa ser reconhecido, acolhido e vivido coerentemente pelo homem e pela mulher.


Causa preocupação a crescente ambiguidade e confusão em relação à identidade sexual, que vai tomando conta da cultura. Antes de ser um problema moral, é um problema antropológico, que merece uma séria reflexão, em vez de um tratamento superficial e debochado, sob a pressão de organizações interessadas em impor a todos um determinado pensamento sobre a identidade do ser humano. Mais do que nunca, hoje todos concordam que o desrespeito às leis da natureza biológica dos seres introduz neles a desordem e o descontrole nos ecossistemas; produz doenças e desastres ambientais e compromete o futuro e a sustentabilidade da vida. Ora, não seria o caso de fazer semelhante raciocínio, quando se trata das leis inerentes à natureza e à identidade do ser humano? Ignorar e desrespeitar o significado profundo da condição humana não terá consequências? Será sustentável para o futuro da civilização e da humanidade?


As ofensas dirigidas não só à Igreja Católica, mas a tantos outros grupos cristãos e tradições religiosas não são construtivas e não fazem bem aos próprios homossexuais, criando condições para aumentar o fosso da incompreensão e do preconceito contra eles. E não é isso que a Igreja Católica deseja para eles, pois também os ama e tem uma boa nova para eles; e são filhos muito amados pelo Pai do céu, que os chama a viver com dignidade e em paz consigo mesmos e com os outros.


Publicado em O SÃO PAULO, ed. de 28.06.2011


Card. Odilo P. Scherer - Arcebispo de São Paulo
Fonte: Zenit.org

6 comentários:

Captare disse...

Prezado Emerson, Laudetur Dominus!

Vejo que você não costuma fazer comentários da maioria dos texto que você clipa em seu blog.

O que você acha deste artigo de Dom Scherer? Digo em detalhes?

Se não quiser conversar sobre isto aqui, me procure no meu e-mail (captare8-arroba-gmail-ponto-com).

Pax et Salutis

Emerson disse...

Como assim eu não costumo fazer comentários? Eu não preciso fazer comentários em todos os textos que posto. São textos que vejo serem interessantes para todos os cristãos ficarem cientes.

Aliás, quem mais tem que fazer comentários são os leitores:)

Captare disse...

Prezado Emerson, Laudetur Dominus!

O que eu quis dizer é que quando clipamos textos de outras pessoas sem nenhum aviso adicional, normalmente estamos subscrevendo na íntegra o qua o outro escreveu. Por isso, é comum em blogs que fazem clipping, como o seu, que alguns artigos sejam publicados com comentários entremeados ou abaixo do texto clipado, e percebi que você não faz isso em nenhum dos seus textos. Não me referi a este espaço para comentários (hehe). Desculpe se dei essa impressão.
Digo isto porque haveria uma ou duas coisas a dizer sobre a declaração de Dom Cardeal Scherer, mas não sabia se você não tinha dito apenas porque não costuma postar "clippings comentados".

Pax et Salutis

Emerson disse...

Nem sempre posto só clipping, Captare. Muitos artigos eu mesmo escrevo. Viu o último sobre o grande herói cardeal Michael Faulhaber?

Eu gosto muito quando o pessoal posta comentários e isso nos incentiva a continuar com o blogue. Você pode comentar aqui sobre os ditos do cardeal, se quiser.

Captare disse...

Prezado Emerson, Laudetur Dominus!

É, eu vi alguns artigos seus. Se eu não me engano o outro em que eu comentei era seu. Sei como você se sente em relação a comentários, pois também tenho um site e fico muito satisfeito em receber comentários.

Então, essa declaração de Dom Scherer, sem dúvida tem pontos bem interessantes. Mas ainda está bem aquém do que a situação (o combate ao gayzismo e as profanações de imagens santas) exige. E parece se preocupar mais com "pessoas" do que com a Igreja em si.

Vou destacar uns pontos e comentar:

“Eu não queria escrever sobre esse assunto [...]”

Ninguém quer escrever sobre uma coisa dessas. Seria muito melhor que coisas assim não existissem. Mas neste texto parece que o sentido usado por Sua Excelência Reverendíssima é o de “não queria me envolver com esse assunto”. O que é reforçado por ele só se manifestar depois do ocorrido, quando já se sabia da Parada Gay, muito antes.
Querendo ou não, todos os cristãos estão envolvidos. E ele tem uma responsabilidade especial, como arcebispo da diocese onde este ato iria se realizar. Por isso deveria ser o primeiro a “querer escrever” sobre isso.

“[N]ão posso deixar de me manifestar em defesa das pessoas que tiveram seus sentimentos e convicções religiosas, seus símbolos e convicções de fé ultrajados.”

Não quero parecer legalista, mas não deveria ser em defesa da Igreja antes das pessoas? Veja que não estou sendo nem tão chato assim: a Igreja não é nem mesmo mencionada nessa frase.

“E na história da luta contra o vírus HIV, a Igreja foi pioneira no acolhimento e tratamento de soro-positivos, sem questionar suas opções sexuais.”

Esta parte sublinhada deveria ser omitida. Porque embora essa informação não seja relevante para “o acolhimento e tratamento”, a afirmação dá margem a que se defenda que a Igreja não tem o direito de questionar a opção sexual de ninguém, quando ela tem todo o direito disso.

Considero que este discurso foi muito "ralo" em vista do que deveria ser um discurso de um bispo da Santa Igreja de Deus. Por isso que ele me pareceu digno de comentários.

Pax et Salutis

Emerson disse...

Ótimas observações, Captare. Por isso prefiro discutir por aqui em vez de PVT porque aí todo mundo vê.

Sobre o caso do cardeal, não é de se admirar, num país com católicos com grande influência da %¨#%#@¨% da TL e modernismo.

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